“A vida consagrada requer ousadia e precisa de pessoas idosas que resistam ao envelhecimento da vida, e de jovens que resistam ao envelhecimento da alma”: foi o que disse o Papa Francisco recebendo no final da manhã desta quinta-feira (09/09), na Sala Clementina, no Vaticano os cerca de 100 membros do Capítulo Geral dos Missionários filhos do Coração Imaculado da B.V. Maria (Claretianos).
Citando o tema do Capítulo "Enraizados e ousados", o Santo Padre afirmou que “enraizados em Jesus” pressupõe uma vida de oração e contemplação que os leve a poder dizer como Jó: "Eu te conhecia apenas por rumores, mas agora meus olhos te viram" (Jb 42,5). Uma vida de oração e contemplação que lhes permita falar, como amigos, face a face com o Senhor (cf. Ex 33,11). Uma vida de oração e contemplação que os permita contemplar o Espelho, que é Cristo, para que vocês também se tornem um espelho para os outros.
Francisco disse em seguida aos claretianos: “vocês são missionários, se querem que sua missão seja verdadeiramente fecunda, não podem separar a missão da contemplação e de uma vida de intimidade com o Senhor. Se querem ser testemunhas, não podem deixar de serem adoradores. Testemunhas e adoradores são duas palavras que estão no coração do Evangelho: "Ele os chamou para estarem com ele e para enviá-los a pregar" (Mc 3:14). Duas dimensões que se alimentam mutuamente, que não podem existir uma sem a outra.
“O filho do Coração Imaculado de Maria é uma pessoa que arde de caridade e por onde passa queima”, dizem suas Constituições Gerais, afirmou o Papa citando o Padre Claret (n. 9). Deixem-se queimar pelo Senhor, por seu amor, de tal forma que possam ser incendiários por onde passam, com o fogo do amor divino. Que Ele seja sua única segurança. Citando mais uma vez as Constituições acrescentou o Papa: "Não se deixem intimidar por nada".
Não tenham medo de suas fragilidades; tenham medo, sim, de cair na "esquizofrenia" espiritual, na mundanização espiritual que os levaria a confiar apenas em suas "carruagens" e "cavalos", em suas forças, e a acreditar que você é o melhor, a buscar obsessivamente o bem-estar e poder (cf. Evangelii Gaudium, 93). Não se acomodem – continuou o Papa - a esta lógica mundana que fará com que o Evangelho, que Jesus, deixe de ser o critério orientador de suas vidas e de suas escolhas missionárias. Não se pode conviver com o espírito do mundo e pretender servir ao Senhor. Orientem sua existência com base nos valores do Evangelho. Nunca utilizem o Evangelho de forma instrumental, como uma ideologia, mas sim como um vade-mécum, deixando-se guiar a todo momento pelas escolhas do Evangelho e pelo desejo ardente de "seguir Jesus e imitá-lo na oração, na fadiga e na busca constante da glória de Deus e da salvação das almas" (Pe. Claret).
Esta orientação – disse ainda o Papa - os tornará audazes na missão, como audaz foi a foi a missão do padre Claret e dos primeiros missionários que se uniram a ele. A vida consagrada exige audácia e precisa de pessoas idosas que resistam ao envelhecimento da vida, e de jovens que resistam ao envelhecimento da alma.
Esta convicção os levará a sair, a partir e ir onde ninguém quer ir, onde a luz do Evangelho é necessária, e a trabalhar lado a lado com o povo. Sua missão não pode ser "à distância", mas de vizinhança, proximidade.
Que a Palavra e os sinais dos tempos nos sacudam de tanta lentidão e de tantos medos que, se não estivermos atentos, nos impedem de estar à altura dos tempos e das circunstâncias que reclamam uma vida consagrada audaz e corajosa, uma vida religiosa livre, libertada e libertadora da nossa precariedade.
Espero, caros irmãos, que este Capítulo, que vocês estão prestes a concluir, os ajude a concentrar-se no essencial: Jesus, a colocar a sua segurança Nele e só Nele que é todo bem, o sumo bem, a verdadeira segurança.
Francisco concluiu seu discurso agradecendo aos claretianos por todo o trabalho apostólico e toda a reflexão sobre a vida consagrada realizados durante estes anos. Continuem, e que o Espírito os guie nesta nobre tarefa.
Texto: Silvonei José / Vatican News
Foto: Vatican Media