O cardeal Secretário de Estado Pietro Parolin celebra a Missa de encerramento do encontro realizado neste dias no mosteiro camaldulense, por ocasião do 80º aniversário do Código de Camaldoli que, em 1943, um grupo de intelectuais católicos, leigos e religiosos, neste mesmo lugar, sob a orientação de Monsenhor Adriano Bernareggi, elaborou através de um debate sobre o magistério social da Igreja, sobre os problemas da sociedade, sobre as relações entre o indivíduo e o Estado, entre o bem comum e a liberdade individual. Embora hoje, diz o cardeal, o contexto histórico e eclesial tenha mudado, o medo do que ele chama de "uma guerra inesperada no coração da Europa" é tão forte que, observa, "parece querer reviver macabras saudades totalitárias".
À luz das leituras da liturgia deste domingo sobre as três pequenas parábolas do Evangelho de Mateus, aquela sobre o trigo e o joio, o grão de mostarda e o fermento, o cardeal ressalta que "a santidade de Deus é estar presente onde há morte, insignificância, maldade". Ele enfatiza que o Reino dos Céus "está misturado com os nossos acontecimentos, com a nossa história, com a nossa história pessoal". As três parábolas insistem, acima de tudo, sobre o descarte", acrescenta, "isto é, sobre a desproporção entre diferentes realidades; na necessidade de discernir o que significa estar no mundo; e, finalmente, em saber esperar. Essa desproporção, esse discernimento e esse saber esperar são o espaço da fé. E esse espaço é a condição da história".
Parolin continua dizendo que "o verdadeiro problema para o crente que vive na história é duplo: resistir ao mal e perseverar na fé sem buscar atalhos acomodatícios". E enfatiza que "o messianismo de Jesus não é político, ou seja, não tende a expressar um estado, um poder mundano. Ele vê a presença do Reino dos céus na história como descarte, contradição, ocultação". Em seguida, ele acrescenta um esclarecimento útil para eliminar possíveis interpretações enganosas: "O messianismo de Jesus é um messianismo da pessoa. Não é uma utopia. Pensar nele como utopia foi uma das contradições históricas que o cristianismo suportou. O messianismo de Jesus é a pessoa que vive com Deus que vive nele e inventa suas ações todos os dias na história comum dos homens". Recordando a história de Jó, o cardeal também lembrou que "Deus não precisa daqueles que o defendem ou justificam, mas daqueles que acreditam na secreta sabedoria de sua palavra".
Com a consciência do que aconteceu depois de 25 de julho de 1943, quando - afirma o cardeal - percebemos que o mal que se manifestou no coração da Europa "cobriu nosso próprio país com uma densa escuridão e penetrou em nós mesmos", Parolin acredita que hoje devemos olhar para aquela iniciativa do Código de Camaldoli como uma iniciativa "necessária", tirando dela uma lição útil. O cardeal faz um esclarecimento sobre o contexto histórico e eclesial: "estávamos dentro da catástrofe do fascismo e da guerra, (refere-se à Itália) às vésperas da constituição do que viria a ser o "Partido Católico". Embora agora vivamos em uma situação geopolítica totalmente diferente, "uma guerra inesperada no coração da Europa parece querer reavivar a macabras saudades totalitárias".
Parolin também não esquece a diversidade das condições eclesiais em comparação com oitenta anos atrás: não se imaginava na época que a renovação do Concílio Vaticano II chegaria, mas "agora estamos experimentando", admite ele, "uma virada antropológica que parece querer colocar em questão a própria fé". De acordo com Parolin, continua sendo válido fazer um discernimento preciso para entender a história em andamento e a necessidade de elaborar uma cultura adequada que, segundo ele, não tem precedentes hoje. Essa é a responsabilidade de todo o Povo de Deus hoje, enfatiza. E a esse respeito - como, aliás, o cardeal Zuppi, presidente da Conferência Episcopal Italiana, já havia pedido na abertura da conferência de Camaldoli - Parolin espera um aumento no número de locais de encontro, de treinamento, de oportunidades para a reflexão comum não apenas sobre questões civis e sociais, mas também sobre as da fé. O atual Sínodo é uma expressão de tudo isso, diz o Secretário de Estado, com o envolvimento de fiéis leigos.
Parolin expressa a convicção de que a participação no crescimento democrático da sociedade civil e das instituições hoje precisa de mulheres e homens cristãos, conscientes de sua fé, que testemunhem, em todos os âmbitos da vida comum, a inspiração, os valores e o comportamento que sua fé continua a fermentar, sem os quais essa sociedade não será melhor. O cardeal adverte contra o individualismo exagerado, que, segundo ele, não devolve às pessoas a liberdade que esperam, a felicidade que buscam, mas sim o autoconsumo. "Precisamos recuperar a paixão do outro, o reconhecimento do outro, o acolhimento do outro", ressalta. Por fim, voltando ao significado das parábolas de hoje, ele enfatiza que "o Reino dos Céus cresce invisivelmente na história humana, lá onde vive o desejo da plena dignidade humana; lá onde vive o amor pela liberdade dos indivíduos e dos povos, através do direito e da justiça; lá onde vive a compaixão pelos outros, que é já é a saudade de Deus".
Texto: Antonella Palermo / Vatican News
Foto: Vatican Media