Um clima de tensão "que surpreendeu a todos, inclusive os próprios muçulmanos" e que representa uma "novidade". É assim que o ex-vigário patriarcal de Jerusalém dos Latinos, dom Giacinto-Boulos Marcuzzo, ainda hoje residente na cidade santa e ativo no trabalho pastoral, comenta os últimos episódios de violência e intolerância anti-cristã ocorridos em Nazaré.
Quando o padre recusou, o jovem "começou a rezar" até que um grupo de pessoas chegou e "o convenceu a desistir e ir embora" para evitar gerar mais tensão. Três episódios em poucos dias contra cristãos na cidade de Jesus, que é também - como explica dom Marcuzzo - o mais importante centro "do mundo muçulmano e árabe em Israel".
Destes, dois envolveram institutos educacionais, e é por isso que o secretariado geral das escolas cristãs em Israel pediu para esta segunda-feira uma greve geral em todos os institutos em Nazaré. Para esta terça-feira, "atividades educacionais especiais" com discussões profundas sobre o tema da violência confessional e formas de combater o fundamentalismo na sociedade.
Esta quarta-feira, 29 de março, a Escola das Irmãs Salesianas realizará uma coletiva de imprensa intitulada "Não à violência", enquanto os bispos no mesmo dia "publicarão uma nota oficial - o prelado antecipa - sobre as violências recentes".
O primeiro ataque data de 16 de março, quando por volta das 18h30min alguns indivíduos dispararam tiros na direção da escola e do convento das irmãs franciscanas. Um gesto considerado um "precedente perigoso", pois pela primeira vez visou uma instituição educacional cristã em Israel, que até agora tinha sido poupada.
O segundo ocorreu no dia 24 de março e envolveu o instituto e a casa das irmãs salesianas, atacadas por pessoas mascaradas em uma incursão com uma clara matriz confessional. As religiosas relatam que, depois de abrir o portão, elas se viram diante de pessoas com o rosto coberto por máscaras pretas, que as intimavam a se converter ao Islã neste "mês sagrado do Ramadã". Pelo menos cinco jovens teriam levado a cabo a agressão, depois fugindo quando a guarda chegou.
“As agressões dão-se num clima de profunda tensão, começando com a onda de protestos em Israel em torno da controversa reforma da justiça. Soma-se a isso o confronto entre israelenses e palestinos na Cisjordânia e em Gaza, alimentado por gestos provocatórios como a caminhada de Itamar Ben-Gvir até a Esplanada das Mesquitas, que ameaça se transformar em uma nova intifada e já causou um número recorde de vítimas.”
Depois há os ataques contra locais de culto e centros cristãos por mãos de extremistas judeus: o último episódio em 19 de março no Túmulo de Maria, precedido pelo ataque no início de fevereiro contra a Igreja da Flagelação, enquanto no início do ano grupos extremistas profanaram um cemitério no Monte Sião e antes disso atingiram outros alvos incluindo uma igreja perto do Cenáculo, a própria Basílica de Nazaré e edifícios católicos e greco-ortodoxos.
"Com referência aos episódios de intolerância em Nazaré nos últimos dias - enfatiza dom Marcuzzo -, é importante notar a postura tomada por dois respeitados imames da cidade, chefes das mesquitas, que condenaram fortemente estes gestos".
"São em sua maioria jovens, talvez movidos por demasiado entusiasmo, que por ocasião do Ramadã (o mês islâmico de jejum e oração) querem fazer gestos de ... ’zelo apostólico’, pessoas que querem ser notadas em um clima particular ligado ao mês sagrado".
Na segunda-feira a greve das escolas e esta terça-feira seminários e momentos de reflexão nos institutos, explica o ex-vigário, "mas como Igreja e líderes cristãos queremos tentar acalmar a situação, sem fazer polêmicas".
"O verdadeiro cerne da questão - conclui ele - é que estes episódios fazem parte de um quadro mais amplo e preocupante que se vive em Israel, uma escalada de tensão que surpreendeu pela velocidade com que está ocorrendo e que, pelo menos por enquanto, não causou vítimas. A preocupação, no entanto, permanece".
Texto: Vatican News, com informações da AsiaNews
Foto: Titi Maciel Pérez