"A unidade para a qual caminhamos sobrevive na diferença. Não nos encerra na uniformidade, mas predispõe-nos para nos acolhermos nas diferenças. Isso acontece a quem vive segundo o Espírito: aprende a encontrar cada irmão e irmã na fé como parte do corpo a que pertence. Este é o espírito do caminho ecumênico", disse o Papa em seu discurso na Catedral de Nossa Senhora da Arábia, no Bahrein.
Após o encontro com o Conselho Muçulmano de Anciãos, na Mesquita do Palácio Real Sakhir, o Papa Francisco se dirigiu para a Catedral de Nossa Senhora da Arábia, em Awali, onde se realizou o Encontro ecumênico e oração pela paz.
Em sua alocução, Francisco recordou a passagem dos Atos dos Apóstolos que fala que, em Jerusalém, no dia de Pentecostes, cada um ouvia os discípulos falarem das maravilhas de Deus em sua própria língua. Apesar de virem de muitas regiões, as pessoas se sentiram unidas num só Espírito. "Hoje, como então, a variedade de origens e línguas não é um problema, mas um recurso", disse o Papa, reiterando que "isto é válido também para nós, porque, «num só Espírito, fomos todos batizados para formar um só corpo»".
Infelizmente, com as nossas dilacerações, ferimos o corpo santo do Senhor, mas o Espírito Santo, que une todos os membros, é maior do que as nossas divisões carnais. Por isso é justo afirmar que, quanto nos une, supera em muito quanto nos divide e que, quanto mais caminharmos segundo o Espírito, tanto mais seremos levados a desejar e, com a ajuda de Deus, a restabelecer a plena unidade entre nós.
Voltando ao texto de Pentecostes, o Papa citou dois elementos úteis para o caminho de comunhão entre os cristãos: "A unidade na diversidade e o testemunho de vida". "O povo cristão é chamado a reunir-se, para que aconteçam as maravilhas de Deus. O fato de estar aqui no Bahrein como um pequeno rebanho de Cristo, disperso em vários lugares e confissões, ajuda a sentir a necessidade da unidade, da partilha da fé: assim como neste arquipélago não faltam ligações seguras entre as ilhas, assim aconteça também entre nós, para não estarmos isolados, mas em comunhão fraterna", sublinhou.
"Como fazer para aumentar a unidade, se a história, o hábito, as obrigações e as distâncias nos parecem atrair para outras partes? Qual é o «lugar de encontro», o «cenáculo espiritual» da nossa comunhão?", perguntou Francisco, respondendo que "é o louvor a Deus, que o Espírito suscita em todos. A oração de louvor e adoração é gratuita e incondicional, atrai a alegria do Espírito, purifica o coração, reconstitui a harmonia, sanifica a unidade. O louvor e a adoração nos conduzem às fontes do Espírito, levando-nos de novo às origens, à unidade".
O Papa disse que "a unidade para a qual caminhamos sobrevive na diferença. Não nos encerra na uniformidade, mas predispõe-nos para nos acolhermos nas diferenças. Isso acontece a quem vive segundo o Espírito: aprende a encontrar cada irmão e irmã na fé como parte do corpo a que pertence. Este é o espírito do caminho ecumênico".
A seguir, Francisco disse: "Perguntemo-nos, como avançamos neste caminho. Eu, pastor, ministro, fiel, sou dócil à ação do Espírito? Vivo o ecumenismo como um peso, como um compromisso extra, como um dever institucional, ou então como o desejo veemente de Jesus de que nos tornemos «um só», como uma missão que brota do Evangelho? Concretamente, que faço eu por aqueles irmãos e irmãs que acreditam em Cristo e não são dos «meus»? Conheço-os, procuro-os, interesso-me por eles? Mantenho as distâncias comportando-me de maneira formal ou então procuro compreender a sua história e apreciar as suas particularidades, sem as considerar obstáculos intransponíveis?"
Depois da unidade na diversidade, o Papa passou ao segundo elemento: o testemunho de vida. No dia de Pentecostes, os discípulos se abrem, saem do Cenáculo e vão a todos os lugares do mundo. "Jerusalém, que parecia o seu ponto de chegada, torna-se o ponto de partida de uma aventura extraordinária", sublinhou Francisco, reiterando que "o nosso anúncio não é tanto um discurso feito de palavras, mas um testemunho a ser mostrado com os fatos; a fé não é um privilégio a ser reivindicado, mas um dom a ser partilhado".
O fato de estar aqui, no Bahrein, permitiu a muitos de vocês voltar a descobrir e praticar a genuína simplicidade da caridade: penso na assistência aos irmãos e irmãs que chegam, numa presença cristã que com humildade quotidiana testemunha, nos locais de trabalho, compreensão e paciência, alegria e mansidão, benevolência e espírito de diálogo. Numa palavra: paz.
Francisco disse que devemos "nos interrogar também sobre o nosso testemunho, porque, com o passar do tempo, podemos ir em frente apenas por inércia e esmorecer em mostrar Jesus através do espírito das Bem-aventuranças, a coerência e a bondade da vida, a conduta pacífica". "Agora que nos encontramos a rezar juntos pela paz, perguntemo-nos: Somos realmente pessoas de paz? Estamos possuídos pelo desejo de manifestar, por todo o lado e sem esperar nada em troca, a mansidão de Jesus? Fazemos nossas as fadigas, as feridas e as desuniões que vemos ao nosso redor?"
O Papa concluiu, dizendo que a "unidade e testemunho são coessenciais: não se pode testemunhar verdadeiramente o Deus do amor, se não estivermos unidos entre nós como Ele deseja; e não se pode estar unido, permanecendo cada um por conta própria, sem se abrir ao testemunho, sem dilatar os confins dos nossos interesses e de nossas comunidades em nome do Espírito que abraça toda a língua e anseia por alcançar a cada um. Ele une e envia, reúne em comunhão e manda em missão. Na oração, confiemos-Lhe o nosso percurso comum e invoquemos sobre nós a sua efusão, um renovado Pentecostes que dê olhares novos e passos ligeiros ao nosso caminho de unidade e paz".
Texto: Mariangela Jaguraba / Vatican News
Foto: Vatican Media