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Do Líbano o grande testemunho da unidade entre os cristãos

Publicado em 19 de janeiro de 2022 - 16:58:36

Os cristãos estão "espalhados pela terra e caíram na agitação do egoísmo individual e coletivo", esquecendo-se de seu Senhor. Estas foram palavras firmes pronunciadas pelo patriarca católico armênio Raphaël Bedros XXI Minassian ao abrir a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos no domingo passado (16/01) na Catedral dos Santos Elias e Gregório em Beirute.

As feridas profundas impedem a unidade
O Patriarca destacou o sofrimento que as Igrejas cristãs ainda hoje vivem por causa das "feridas profundas e dolorosas, causada pelos séculos", invocou a unidade querida por Deus Criador e exortou a um retorno à oração. Para ouvi-lo estavam presentes pela primeira vez unidos para a ocasião patriarcas, bispos, sacerdotes e representantes das Igrejas cristãs do país, incluindo o Patriarca dos Maronitas, o Cardeal Béchara Boutros Pierre Rai, o Patriarca dos Melquitas, o Arcebispo Youssef Absi, o Patriarca católico sírio de Antioquia, Youssef Younan, e o Núncio Apostólico no Líbano, Dom Joseph Spiteri.

As meditações propostas para a Semana
Este ano as meditações se baseiam no tema escolhido pelo Conselho das Igrejas do Oriente Médio com sede em Beirute a partir do Evangelho de Mateus: " Vimos sua estrela no Oriente e viemos prestar-lhe homenagem".

Entrevista

Beatitude, "o Cristo católico não é diferente do Cristo ortodoxo": esta foi uma passagem significativa em sua reflexão para a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, na qual o senhor enfatizou que, contra as divisões, é necessário voltar à arma da oração. É isso que é necessário para encontrar a unidade?

Primeiramente gostaria de dizer que ouvi esta frase, "o Cristo católico é o mesmo que o Cristo ortodoxo", de minha mãe, uma órfã do genocídio armênio. Era 1956, na aldeia havia apenas duas igrejas, por acaso ela assistiu à missa em uma igreja ortodoxa síria e por isso foi criticada: "Por que você, sendo casada com um católico vai a uma igreja ortodoxa"? Sua resposta foi: "Qual é a diferença? Cristo não é o mesmo que o ortodoxo?". Se refletirmos profundamente sobre a unidade da Igreja, descobrimos que Cristo é o centro de nossas vidas, tanto na Igreja Ortodoxa como na Igreja Católica. Não devemos punir Cristo! Este é o ponto que me tortura. É verdade que nós homens não concordamos entre nós, mas desta forma castigamos nosso Senhor que é nosso Salvador, que nos salvou a todos, então, praticamente, este é o primeiro sentido da unidade: que Cristo está aqui e ali, e este é o primeiro ponto. Em segundo lugar, a única coisa que nos aproxima um do outro é a oração, porque o que é oração senão um diálogo com meu Salvador, com Deus? E assim, quando eu lhe pedir ou lhe disser algo, ele me olhará diretamente nos olhos e dirá: a você eu entreguei minha Igreja, o que você está fazendo? Por que esta divisão? E qual será minha resposta, se não pedir perdão e convidar meu irmão que está separado? Ou também vice-versa, que seja ele a me chamar para rezarmos juntos, para mostrar a Deus que assumimos esta responsabilidade de salvaguardar sua instituição divina que é a Igreja universal.

O tema da Semana deste ano refere-se aos Reis Magos, recordando sua experiência de seguir a estrela para encontrar e honrar o Menino. Por que esta reflexão foi escolhida pelas Igrejas do Oriente Médio?

Penso que o tema escolhido seja muito real, porque hoje os Magos somos nós, estamos verdadeiramente buscando Cristo, o Menino Jesus, nosso Criador, que deixou de lado sua dignidade divina para descer e se encarnar, que viveu conosco e para nós, para nos salvar e nos reconciliar com o Pai. Assim, praticamente falando, somos os Magos sob a luz desta estrela, uma luz que é dada pelo Criador para iluminar nosso caminho, para alcançar a meta que é Cristo, seu único Filho. Somos aqueles Magos que, em busca deste caminho, desta verdade e desta vida, caminham sob a luz que o Senhor nos deu através da Igreja.

No Angelus do último domingo, o Papa Francisco recordou que os cristãos são peregrinos no seu caminho para a unidade plena. Ele os convidou a oferecer seus trabalhos e sofrimentos e os exortou a manter o olhar fixo em Jesus a fim de se aproximarem cada vez mais do objetivo. O que impediu até agora os cristãos de alcançar esta unidade? É um obstáculo que ainda está presente? 

Eu diria que sim, está presente. O nosso pecado está sempre diante de nós, diante de nossos olhos: nosso egoísmo. Podemos falar, dizer e apresentar muitas intenções bonitas para qualquer iniciativa, mas na realidade estamos longe uns dos outros, portanto todos esses sacrifícios, esses males, que suportamos e oferecemos a nosso Senhor, como diz o Papa, são meios, assim como o sacrifício que era apresentado a Deus no Antigo Testamento. Todas as nossas dores, todos os nossos sofrimentos, seriam um dom para receber uma graça, porque estamos conscientes de nossa fraqueza humana, por isso pedimos ao Senhor que nos ajude a ter a coragem de esquecermos de nós mesmos e viver para o outro. Portanto, há este sacrifício do qual o Santo Padre fala, ao qual deve ser acrescentada a oração. Devemos pedir ao Senhor e esclarecer diante dele, humildemente: sou um pecador, sou fraco, peço ajuda para abrir-me ao meu irmão e aceitá-lo, assim como rezo também por ele, para que tenha essa coragem de olhar para mim, e assim, olhando um para o outro, chegaremos mais perto pelo amor do terceiro que é essencial, o ponto central de nossas vidas, nosso objetivo e o futuro, que é Cristo.

Texto: Francesca Sabatinelli / Vatican News

Foto: James Rathmell / Unsplash

 

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