Fome: Cáritas Internacional e Santa Sé pressionam ONU para promover maior justiça alimentar
Publicado em 27 de julho de 2021 - 17:14:07
A confederação internacional da Cáritas desafiou a ONU a promover uma maior justiça alimentar, com valorização das “mulheres e agricultores locais”, numa mensagem dirigida à pré-cimeira sobre Sistemas Alimentares, que decorre em Roma.
“A agricultura industrial não é o único caminho para a justiça alimentar”, assinala a ‘Caritas Internationalis’, em comunicado enviado hoje à Agência ECCLESIA, pedindo uma discussão mais justa sobre o sistema alimentar.
A organização católica intervém publicamente para pressionar os participantes na pré-cimeira dos sistemas alimentares da ONU, que decorre entre segunda e quarta-feira, na sede da FAO.
A Cáritas exorta os responsáveis internacionais a “incluir os direitos dos pobres em todas as discussões e a garantir a participação significativa de produtores e consumidores locais, especialmente mulheres”.
O encontro de três dias, em Roma, prepara a chamada Cimeira dos Sistemas Alimentares, que vai ser realizada em setembro, na sede da ONU, em Nova Iorque.
O comunicado da ‘Caritas Internationalis’ diz que estes eventos devem promover uma “transformação duradoura dos sistemas alimentares”, algo “ainda mais necessário” num momento em que a pandemia de Covid-19 agravou “as desigualdades pré-existentes no acesso aos alimentos”.
“Espera-se que vários milhões de pessoas sofram de insegurança alimentar e desnutrição nos próximos meses e anos”, adverte a organização católica de solidariedade e ação humanitária.
Falando do acesso aos alimentos como “direito humano básico”, a confederação internacional da Cáritas mostra-se convencida de que “a segurança alimentar não pode ser garantida e os sistemas alimentares não podem ser transformados apenas promovendo a agricultura industrial, que a longo prazo só contribuirá para excluir mais pessoas da cadeia de abastecimento”.
Com base em décadas de experiência com as comunidades mais pobres, a Cáritas defende “a promoção da agricultura tradicional de base comunitária, a agroecologia, uma revisão da cadeia de abastecimento em favor dos mercados locais e promoção do consumo responsável de alimentos”.
As organizações da Caritas questionam “soluções tecnocráticas” para problemas como a mudança climática, a degradação ambiental e o desperdício de alimentos.
A pré-cimeira de Roma reúne agricultores, empresas, povos indígenas, sociedade civil e líderes políticos mundiais.
A chefe da delegação da Santa Sé, irmã Alessandra Smerilli, advertiu que 70% dos lucros do comércio global de produtos agrícolas estão concentrados nas mãos de poucas empresas, algo que impede “uma verdadeira transição para a agroecologia e sistemas alimentares sustentáveis”.
Na mensagem que enviou ao encontro, lida esta segunda-feira, o Papa Francisco disse que a fome no mundo é um “escândalo” e um “crime” contra os Direitos Humanos.
A crise provocada pela pandemia pode vir a mergulhar mais 132 milhões de pessoas na desnutrição.
“É necessário transformar as palavras em ações incisivas e frutíferas para erradicar a fome, de modo a obter uma colheita abundante de solidariedade e justiça”, disse ao portal de notícias do Vaticano D. Fernando Chica Arellano, representante da Santa Sé junto da FAO e PAM.
Texto: Agência Ecclesia