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Quem é o governante ideal?

Publicado em 27 de agosto de 2024 - 10:36:19

A pergunta sobre o governante ideal é pretenciosa, mas não é recente. O filosofo grego Platão, em sua obra “República”, tratou desta questão. Segundo ele, o governante ideal deve ser um filósofo, alguém que combine o conhecimento e a capacidade de governar de forma justa. Platão explica a justiça como equilíbrio, seja na organização social ou na conduta pessoal, que leva à harmonia estrutural entre as partes diferentes. A justiça acontece quando cada parte faz aquilo que lhe é próprio, e descobrir os caminhos para este entrelaçamento é a tarefa do governante sábio. Como tentativa para responder à pergunta sobre o governante ideal, é possível propor três qualidades principais: a integridade moral, um olhar empreendedor e a capacidade de comunicação.

Agir com honestidade e coerência de valores, nas mais diversas situações, não é uma tarefa simples, principalmente quando as condições para governar dependem de acordos e alianças. Mas um governante íntegro deve respeitar os princípios de transparência, seja na administração do seu patrimônio pessoal ou na gestão das coisas públicas, porque isso é fundamental para construção da confiança pública. O governante ideal não deve estar interessado no poder ou na riqueza, mas em proporcionar o melhor para a cidade, o estado ou o país. Para Platão, qualquer situação ou pessoa que pudesse influenciar decisões, gerando ganhos pessoais e não benefício para o interesse da cidade, deveria ser desconsiderada.

Olhar para além do horizonte, com iniciativa e a capacidade de pensar nas necessidades imediatas e no futuro da coletividade, é uma habilidade essencial para governar bem. Uma cidade, por exemplo, precisa de recursos e estruturas no presente, mas deve possuir estratégias de longo prazo, para o futuro. O governante ideal saberá enfrentar os desafios de hoje e antecipar os de amanhã, inspirando pessoas com planos e projetos para as próximas gerações. Platão pensava que esse conhecimento é básico e apenas um governante com essa sabedoria poderia compreender o que é bom para a cidade. O bem da cidade e dos cidadãos, hoje e amanhã, é a inspiração do governante ideal.

Para levar adiante os projetos que trazem benefício para a cidade, é preciso clareza na comunicação. Em um ambiente de saudável diversidade política, a habilidade de comunicar entrelaça a capacidade de ouvir e a de responder, trazendo para a discussão o que é de interesse público. O diálogo facilita o entendimento e abre caminhos para realização dos projetos necessários. Platão argumenta que, sob a liderança de um governante ideal, a cidade alcançaria uma condição de justiça, mas para isso o governante deve ter a capacidade de apresentar, discutir e convencer os cidadãos, da viabilidade e justiça de suas decisões. Essa atitude levaria à harmonia e à estabilidade da cidade. Será possível atingir todas estas condições?

Responder simplesmente que é impossível reunir todas essas qualidades seria leviano e pessimista, melhor é acreditar que seja possível chegar próximo deste ideal. Melhor é confiar e fazer escolhas coerentes, responsáveis e buscar candidatos com princípios e valores éticos. Escolher pessoas que, antes da política, eram cidadãos que trabalhavam para sustentar suas famílias, que construíram sua vida ou seu patrimônio de forma honesta, que foram trabalhadores ou geraram empregos para outras pessoas. Escolher mulheres e homens pelo seu caráter, pelas contribuições que já deram à sociedade ou pelas possibilidades reais de contribuição. Quem vai entrar na vida pública ou quem já está nela deve ter uma história concreta que confirme suas intenções. 

Escolher bons governantes é uma tarefa árdua e necessária, mas não podemos fugir dessa responsabilidade. São João Paulo II disse: “A atividade política deve realizar-se em espírito de serviço”. Como cidadãos e cristãos, precisamos estar atentos ao processo eleitoral, que já começou. Este processo não é um ringue onde os gladiadores vão se debater até o sangue, expondo feridas uns dos outros. O processo eleitoral também não pode ser um leilão, onde quem tem mais dinheiro compra mais pseudofidelidade. Tudo isso seria indigno da verdadeira política, que é um debate de ideias na busca do bem comum. Cabe aos eleitores a escolha sábia, dos seus governantes. 

Dom Devair Araújo da Fonseca
Bispo de Piracicaba

 

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