A relação entre teologia e política “pertence à estrutura mesma da revelação, da fé e da teologia cristãs. É um elemento constitutivo do dinamismo cristão” (p.29). “A infinidade de situações, acontecimentos, realidades e assuntos que o tema teologia e política suscita e abriga, além da diversidade de perspectivas (ciências) e de abordagens (escolas teóricas) no interior de cada perspectiva em que ele é tratado, são suficientes para mostrar a amplidão e a complexidade da questão que aqui nos ocupa. E exige, de antemão, uma clara delimitação de perspectiva e de abordagem” (pp.29-30).
O discurso teológico é caracterizado por “sua abordagem dos processos históricos, da configuração das relações sociais, da constituição das forças políticas, da produção e eficácia dos discursos ideológicos e da participação dos crentes e de suas Igrejas/religião nesses processos dá-se a partir da fé da comunidade religiosa em que ele está enraizado e é produzido e em função dela” (pp.30-31). Para compreender a função, o papel e a importância da religião nos processos sociais e políticos, a política deve considerar a perspectiva própria e específica dos crentes e de suas Igrejas/religiões.
Doutro lado, a teologia não pode ficar indiferente aos resultados reais/concretos da práxis dos crentes e de suas Igrejas/religiões nos processos históricos. “Tem de leva-los a sério, sob pena de se reduzir a especulações teóricas sem eficácia histórica ou, o que é mais provável, ser transformada (por comissão ou por omissão) em instrumento de legitimação ideológica de determinadas práticas contrárias à fé” (pp.31-32). A diversidade de religiões leva a uma diversidade de teologias. Mesmo no Judaísmo, Cristianismo e Islamismo existem diferenças significativas, apesar de serem religiões abraâmicas” (p.33).
Nenhuma religião é homogênea nem uniforme. No interior de cada religião existe uma diversidade enorme de práticas e teorias. “O Reinado de Deus não se identifica com a Igreja nem mesmo com Jesus ou com Deus, tomados em si mesmos, à margem da salvação real da humanidade e do mundo” (p.49). “Trata-se, em primeiro lugar, de um Reinado dos pobres, dos oprimidos, dos perseguidos, ‘dos que sofrem realmente os efeitos do pecado do mundo, a negação do amor de Deus na negação do amor ao homem’” (p.49). Abrange tanto a dimensão pessoal quanto a dimensão estrutural da vida.
Teologia e política estão intrinsecamente ligadas. “Não é ‘pura questão de fé e de obediência, mas é também questão de umas obras que com a fé estabelecem a presença objetiva de Deus entre os homens, que não apenas deve ser crido, mas que também há de ser praticado’. Além do mais, não se pode esquecer o caráter dialético-conflitivo do Reinado de Deus em relação ao reinado do mal ou ao antirreinado ou, numa linguagem mais teológica, seu caráter redentor libertador. É um Reinado em luta contra as forças do mal que oprimem e matam” (pp.49-50).
O caráter social da teoria teológica “é facilmente perceptível e verificável: (a) é um momento da práxis social/eclesial, uma atividade em interação com outras atividades; (b) está inserida numa tradição práxico-teórica de mais de dois mil anos; (c) é condicionada e possibilitada por uma práxis, uma língua, uns problemas e umas soluções prático-teóricos que têm sempre, mais ou menos, uma dimensão social; (d) tem como objetivo fundamental o fortalecimento e a eficácia da práxis do Reinado de Deus na sociedade; (e) legitima ou deslegitima uns interesses e umas práticas na sociedade e na Igreja” (p.51).