Os pobres e o Sínodo

No relatório de síntese da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, em sua primeira sessão, realizada no Vaticano de 04 a 28 de outubro de 2023, e com participação não somente de Bispos, mas também de outros membros do Povo de Deus de todos os Continentes, apresentou-se os mais diferentes temas referentes à vida da Igreja, depois de ouvir as pessoas com a consciência de que não é fácil escutar ideias diferentes e que as mesmas não são certeza absoluta. Dentro do clima da sinodalidade as ideias apresentadas foram ouvidas dentro da fraternidade evangélica.

Os participantes da primeira sessão do Sínodo conseguiram sintetizar convergências, questões a ser melhor estudadas e propostas para serem aprofundadas. Uma delas é justamente sobre a presença dos pobres na vida da Igreja. A síntese fala que os pobres pedem amor para a Igreja, entendendo por amor respeito, acolhimento e reconhecimento. Não basta dar alimentos, dinheiro ou ainda prestar serviços sociais sem o respeito e o carinho demonstrados por Jesus que se fez pobre e humilde, partilhando a mesa com os pobres e denunciando as causas da pobreza.

Os membros do Sínodo reconhecem que não existe apenas um tipo de pobreza. Há os que não têm o necessário para viver dignamente. Há os emigrantes, os refugiados, os povos indígenas, originários e afrodescendentes. Há os que sofrem violência e abuso, notadamente as mulheres. Há pessoas dependentes, minorias, idosos abandonados, vítimas do racismo, da exploração e do tráfico. Há trabalhadores explorados, pessoas economicamente excluídas e as que vivem nas periferias. Há ainda os “novos pobres”, produtos das guerras e do terrorismo e dos sistemas políticos e econômicos corruptos que são sua causa.

Além da pobreza material, os participantes do Sínodo admitem a pobreza espiritual, que é entendida como falta de sentido para a vida, fechando-se no individualismo e preocupando-se excessivamente consigo mesmo e vendo nos outros uma ameaça. Os Padres Sinodais afirmam que estar ao lado dos pobres significa comprometer-se com eles também no cuidado da nossa Casa Comum, pois o clamor da terra e o clamor dos pobres são o mesmo clamor. O compromisso da Igreja deve chegar às causas da pobreza e da exclusão exigindo denúncia pública das injustiças de governos, empresas e de estruturas da sociedade.

A construção do bem comum e a defesa da dignidade da vida, baseadas na Doutrina Social da Igreja, devem ser procuradas pelos cristãos através das organizações da sociedade civil, dos sindicatos, dos movimentos populares, da política e das associações de base. Em agindo assim, os cristãos estão atendendo ao apelo de anunciar o Evangelho. A Igreja precisa não somente tornar-se próxima dos pobres, mas a aprender com eles. Em uma Igreja sinodal os pobres devem ocupar o centro das atenções da Igreja, participando dos sofrimentos de Cristo.

A Igreja tem o risco constante que precisa ser evitado de considerar os pobres como “eles” e “nós”, sendo “objetos” da caridade da Igreja. Precisa ainda não transformar as ajudas econômicas em assistencialismo, mas promover uma autêntica solidariedade evangélica, agindo sempre com transparência. As Igrejas locais devem se esforçar para que a Doutrina Social seja cada vez mais conhecida, pois ela é uma exigência da fé e não uma opção. A Doutrina Social deve ser ensinada nos Seminários e Institutos de Teologia e os candidatos ao ministério ordenado e à vida religiosa precisam se inserir no meio dos pobres.

Pe. Antônio Carlos D´Elboux – acdelboux@uol.com.br
Pároco da Paróquia Sagrado Coração de Jesus
Saltinho – SP