O décimo fundamento do decálogo da Doutrina Social da Igreja é Deus como o bem supremo. “Não há progresso social autêntico para todos os homens e verdadeira civilização humana se não houver referência a Deus e um regresso ao Evangelho de Jesus Cristo ensinado pela Igreja. Dominando os esforços dos homens, dos povos e dos seus governantes, para construir a cidade terrestre há a lei de Deus e o Evangelho. Não há bem comum da sociedade que o seja deveras, se se desliga do bem comum universal de toda a Criação: o próprio Deus, o Bem supremo, fim último do homem e, portanto, da sociedade” (p. 249).
Quando se esquece Jesus Cristo e se coloca de lado a lei de Deus, “toda a ordem social começa a ser corroída, minada por mil contradições. São múltiplos os ‘sinais de morte’: a corrida aos armamentos, a extensão da fome no mundo, a anticoncepção, o aborto, a eutanásia, as guerras, o terrorismo à escala planetária. Tudo isso são sinais de ‘resistência ao Espírito Santo’ e a solução está numa ‘nova invocação mais ou menos conscientes, ao Espírito que dá a vida’” (pp. 249-250). Deus faz sempre parte de nossas vidas e ele nunca nos abandona.
O esquecimento de Deus “produz um mundo desumano, de instituições desorientadas, em que as relações de trabalho, as relações sociais, as relações de poder na sociedade política, bem como até as relações internacionais estão, de uma maneira geral, em desacordo com a natureza humana. Aí deve a consciência cristã atuar como consciência crítica face a tudo quanto é desumano no mundo que a circunda. Ela não pode fechar os olhos perante as injustiças sociais de que é testemunha” (p. 250), fazendo a ‘denúncia profética’ e o ‘anúncio dos remédios sociais’ inspirados na Doutrina Social da Igreja.
Evangelização e promoção humana estão ligadas: “laços de ordem antropológica, pois o homem a evangelizar é um ser de carne e osso condicionado por múltiplos problemas sociais e econômicos, e laços de ordem teológica, porque o plano da Criação não se pode dissocias do plano da Redenção, à injustiça a ser combatida não pode dissociar-se da justiça a ser restaurada e, ainda, laços de ordem evangélica, que é a ordem da caridade, pois não se pode proclamar o mandamento novo sem promover, na justiça e na paz, o verdadeiro progresso do homem” (pp. 250-251).
A missão própria da Igreja “é religiosa e não política, nem econômica. Porém, é também verdadeiro que tal missão não pode nem deve cumprir-se sem a preocupação do processo de desenvolvimento temporal da sociedade humana. A Igreja enquanto tal está acima da política, só julgando matérias políticas em termos ético-religiosos, em nome da lei de Deus, não lhe competindo escolher soluções econômicas, sociais ou políticas, mas sim julgar em termos morais e espirituais a verdade ou a falsidade das doutrinas políticas e a justiça ou injustiça de determinadas situações de fato” (p. 251).
Os cristãos precisam construir “um mundo segundo a ordem natural e sobrenatural desejada por Deus. Há uma ordem moral estabelecida apor Deus para bem do homem, ordem essa que reflete a verdadeira natureza humana, que tem a sua origem em Deus ... Há uma ordem natural, cujas linhas essências são a família e a propriedade para a segurança pessoal do homem e, ainda, outros fatores de segurança, tais como as instituições e os agrupamentos profissionais e, por último, o Estado” ( pp. 251-252). “Se se fecha a ordem natural a Deus instala-se a infelicidade do homem...” (p. 252).
Pe. Antônio Carlos D´Elboux – acdelboux@uol.com.br
Pároco da Paróquia Sagrado Coração de Jesus
SALTINHO – SP
Referência:
VERDETE, Carlos. Doutrina Social da Igreja. Lisboa, Paulus, 2007.