Entre os elementos mais antigos que deram origem ao surgimento das cidades está o costume de sepultar os mortos. Como os agrupamentos humanos eram nômades, o sepultamento dos mortos acontecia em lugares demarcados, e periodicamente eram revisitados. Com o passar do tempo, esses agrupamentos humanos começaram a se estabelecer, fixando locais próximos onde era costume sepultar os mortos. Assim, as necrópoles, ou locais destinados ao sepultamento dos mortos, estão na origem das cidades e eram lugares para honrar e celebrar a memória dos ancestrais.
No estudo comparado das religiões, encontramos quase sempre a crença na vida após a morte. Há uma variação nas condições e nos caminhos para se chegar a essa condição; o mesmo se pode dizer da forma como tratar os corpos dos falecidos. O que fica claro é que a morte e a continuidade da vida sempre foram uma questão que preocupou os seres humanos. A preocupação com essa questão leva em conta a brevidade da vida e a possibilidade de transcendência, como resposta para a busca de sentido da vida. Se tudo é transitório, será que existe algo em nós que seja imortal?
O Antigo Testamento guarda as narrativas dos locais onde foram sepultados os patriarcas. De acordo com a tradição judaica, no Túmulo dos Patriarcas estariam sepultados Abraão e Sara, Isaac e Rebeca, Jacó e Lia. O túmulo de Moisés estaria em um vale perto de Bete-Peor e assim outros relatos vão indicar os locais onde foram sepultados os juízes, os profetas e os reis de Israel. Segundo o Antigo Testamento, depois da morte a alma seguia para o Sheol, onde permaneciam num estado de inconsciência. Também havia a crença no julgamento e na recompensa dos justos, enquanto os ímpios enfrentariam as consequências. Mais tarde, desenvolveu-se a crença na ressurreição dos mortos e no julgamento final.
O Novo Testamento parte desse contexto de fé na ressurreição, porém sem trazer uma compreensão mais clara sobre como se daria. Entre os milagres de Jesus, há dois que apresentam a questão da volta à vida: a ressurreição de Lázaro e a do filho da viúva de Naim. Nos dois casos, porém, não se trata de verdadeira ressurreição, mas de volta à vida biológica, considerando que ambos certamente morreram uma segunda vez mais tarde. A ressurreição não é apenas volta à vida biológica; ela é a restauração da vida de maneira definitiva, numa realidade que transcende a matéria e adentra na eternidade divina.
No final do tempo da sua pregação, Jesus subiu a Jerusalém, não apenas para enfrentar seus opositores num último confronto, mas para dar pleno cumprimento às Escrituras. Seus gestos e palavras encontram referências no Antigo Testamento e, além disso, os discípulos recordaram sua pregação e a associaram com os acontecimentos, particularmente no que se refere à sua Paixão. Jesus sofreu uma condenação injusta, mas aceitou tudo na perspectiva redentora, por isso, não foi um sacrifício imposto e nem uma ação de caráter político-revolucionário como alguns querem defender. A morte de Cristo na cruz foi um sacrifício redentor, para o perdão dos pecados de toda a humanidade. Seu corpo foi sepultado num túmulo novo, mas os discípulos foram até lá no terceiro dia e o encontraram vazio.
O túmulo onde Jesus foi colocado ficava próximo do local de sua crucifixão e fora da cidade de Jerusalém. Segundo o costume judaico da época, o corpo devia ser preparado para o sepultamento, com unguentos. Mas como a morte de Jesus ocorreu na véspera da Páscoa, não havia tempo para todos os preparativos. Passado o sábado, algumas mulheres foram ao túmulo e o encontraram vazio; então, correram para avisar os discípulos, que também foram ver e encontraram os panos que cobriam o corpo dobrados. Imediatamente, fariseus e mestres da Lei cuidaram de espalhar o boato de que os discípulos haviam roubado o corpo, por isso, o túmulo estava vazio.
Jesus havia falado da sua Ressurreição, mas sem detalhes, porque não havia nada a ser explicado. A Ressurreição como fato não foi testemunhada por ninguém; os discípulos testemunharam o encontro com o Ressuscitado. Sua Ressurreição não foi um retorno à vida de antes; foi muito além. Quando Jesus apareceu aos discípulos, ele tinha um corpo glorioso, capaz de entrar em lugares fechados, de tomar alimentos e que ainda guardava os sinais da Paixão, como as marcas dos cravos nas mãos e nos pés, além do lado transpassado pela lança do soldado.
A Ressurreição se tornou o ponto central, a chave para a compreensão de todo o anúncio do cristianismo. O Cristo Ressuscitado impulsionou os discípulos a saírem de seu fechamento e de seus medos; foi a partir da Ressurreição que eles retomaram as palavras e os ensinamentos de Jesus. Os discípulos compreenderam o que antes não fazia sentido, porque o Ressuscitado é a resposta, o cumprimento da Aliança e das promessas do Antigo Testamento. O túmulo permanece vazio porque o Ressuscitado está vivo, não apenas por suas palavras ou na memória dos discípulos, mas porque o Cordeiro Imolado foi glorificado pelo Pai. Eis a Páscoa em sua plenitude: Cristo ressuscitou, aleluia, aleluia.
Dom Devair Araújo da Fonseca
Bispo de Piracicaba