The Chosen: Os fundamentos da escolha do Mestre

O que a série The Chosen possui como diferencial, diante de tantas obras audiovisuais que se debruçaram a analisar, artística ou religiosamente, a figura de Jesus? Uma das possíveis respostas pode estar inserida, justamente, em seu título traduzido: “Os escolhidos”.

O fundamento da escolha de Jesus pelos seus – nós, inclusive – não pode ser facilmente conceituado. Ainda mais quando nos deparamos com as palavras do Evangelho de São Marcos, capítulo 3, versículo 13b: “Ele chamou os que quis.” Não existe um critério humanamente avaliável; ou um pré-requisito amparado em merecimentos. Sua Vontade é a força-motriz de todo chamado humano. Essa sentença pode ser corroborada em um personagem que, dentre tantos mostrados pela série, vale a pena ser analisado – de um modo meramente introdutório, evidentemente. Por ora, vamos chamá-la de Lilith. É como, inicialmente, a conhecemos.

A primeira cena mostra sua infância, onde, falando de seus medos a seu pai, ouve-o recitando as palavras do livro de Isaías 43, 1b: “Nada temas, (...) eu te chamo pelo nome, és meu.” Ditas por aquela figura paterna, porta-voz do Pai Celeste, a pequena encontra conforto. Sem perceber, aquele medo vai embora. Porém, pouco tempo depois, seu pai acaba morrendo.

A menina cresce e, devido a questões sugeridas nas cenas, acaba perdendo sua inocência e, depois, sua própria fé. Para agravar sua situação, passa a ser atormentada por uma legião de demônios. Quando consegue voltar à normalidade, se depara com sua miséria e a desesperança de uma mudança de vida. A única pessoa que a humaniza, de algum modo, é o dono de uma espécie de bar – ou seja, alguém que parcialmente contribui para que essa realidade não seja plenamente vivenciada. Nos momentos em que Lilith está “no controle” de sua vida, decide entregá-lo a seus próprios vícios. Viver, ou melhor, sobreviver, mostra-se insuportável. Até que, em um momento de profunda perda de dignidade, ao tentar tomar um copo de bebida nas mãos, é interrompida por um certo alguém que não está interessado em seu corpo, ou tampouco a condenando por seu modo de viver. É Jesus. Após tentar se desvencilhar e fugir, ouve algo d’Ele que lhe penetra no mais profundo da alma. Uma frase que continha um nome que, há tempos não era pronunciado. Logo após isso, O Senhor proclama a mesma passagem bíblica ouvida em sua infância. Daquele momento em diante, Lilith deixa de existir, devolvendo o lugar à Maria de Magdala. Maria Madalena.

E os demônios já não estão ali; e a mulher que usava de seu corpo para sobreviver, também não. E a direção daquela vida foi tomada das mãos dos vícios, uma vez que aquela face, lavada em lágrimas, foi enxugada, de amor, no peito amoroso de Jesus.

Por esse e muitos outros motivos, The Chosen é muito mais que um retrato histórico de um líder amoroso, como visto aos montes. É uma intenção artística de reavivar em nós aquela que foi nossa primeira experiência humana: fomos escolhidos por Ele.

Marcelo Pereira da Silva
RCC Piracicaba
Grupo de Oração Nossa Senhora de Fátima