A partir do momento em que as redes sociais se tornaram mais populares e de fácil acesso, praticamente não há mais acontecimentos que fiquem ocultos. A privacidade é um conceito importante, mas é cada vez mais difícil encontrar ocasiões que possam ser vividas na privacidade. De outro lado, a facilidade da divulgação e exposição de ideias cria novas oportunidades de discussão e relacionamento, abrindo caminho para o crescimento pessoal e social. Na antiguidade, o areópago era um lugar de reunião e de tomada de decisões, foi num lugar assim que o apóstolo Paulo fez um discurso que foi rejeitado por uns e aceito por outros.
Atualmente, as redes sociais, além de outros tantos ambientes e situações da vida contemporânea, podem ser equiparados a “areópagos”, isto é, lugares onde é necessário apresentar as convicções e a força da fé cristã. Como no tempo do apostolo Paulo, haverá quem aceite e quem rejeite ou simplesmente ignore a posição cristã. Independentemente de qualquer reação, positiva ou negativa, é necessário considerar o compromisso dos batizados. Esse compromisso nada tem a ver com proselitismo, mas com a dimensão vivencial e pública da fé que é professada e celebrada.
No Evangelho, encontramos a figura de Nicodemos, um fariseu que era um homem piedoso e que reconheceu em Jesus algo diferente. Nicodemos admirava Jesus, mas procurou por ele à noite, escondido dos olhos dos outros fariseus. Embora Nicodemos quisesse ouvir os ensinamentos de Jesus, não tinha coragem para desafiar os outros fariseus e mestres da lei. É exatamente a mesma coisa que acontece com muitos cristãos nos dias de hoje, quando deixam de demonstra a fé que professam. Pessoas que admiram o ensinamento de Jesus, mas que querem manter um suposto direito de escolha. Cristãos seletivos, que querem escolher só o que convém ou o que agrada no Evangelho. Não querem fazer sacrifícios, nem renúncias e muito menos mudar as atitudes.
Desde o princípio, a Igreja se espalhou e cresceu sustentada pela força do Espírito e pelo testemunho dos mártires, dos confessores da fé, dos doutores e de tantos santos e santas que mostraram a força da fé. Foram homens e mulheres que viveram de forma explícita, não oculta, aquilo que acreditavam. De fato, um cristianismo oculto, vivido de forma privada, não serve, não faz a diferença, não entra em contradição e nem se arrisca nas questões contemporâneas, naquelas realidades onde é preciso fazer brilhar a luz da Verdade, pelo testemunho dos discípulos.
É preciso retomar o vigor do testemunho da fé, mostrando a alegria do Evangelho e a beleza da Verdade que liberta o homem do pecado. Os novos areópagos estão nas redes sociais, mas não só; também estão no mundo do trabalho, na política, nas questões que envolvem a defesa da vida e a dignidade da pessoa humana, entre outras. Não adianta ser um admirador de Jesus, como Nicodemos. É preciso ser discípulo mais ao estilo de Paulo, que reconheceu o seu erro e mudou os rumos de sua vida, passando de perseguidor dos cristãos a evangelizador dos pagãos. Um discípulo convicto, escândalo para os judeus e loucura para os gentios. Que tipo de discípulo queremos ser? Cristãos ocultos ou testemunhas convictas?
Dom Devair Araújo da Fonseca
Bispos de Piracicaba