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Fé, política e compromisso cristão

Publicado em 30 de janeiro de 2024 - 09:28:16

A relação entre política e religião é sempre um tema marcado pela desconfiança e, mais recentemente, pela polarização. As últimas eleições foram impregnadas por essa realidade, mas a política e a fé têm uma relação autêntica, que precisa ser compreendida e bem desenvolvida. O estado democrático é naturalmente laico, isto é, não adota, não apoia e não se opõe a nenhuma religião específica, garantindo a liberdade de crença e a prática religiosa aos cidadãos. O contrário do estado laico é o estado ateu ou totalitário, no qual a religião é ativamente desencorajada e proibida, ou o estado teocrático onde o governo e as leis estão baseados em uma religião.

No estado democrático, os cidadãos participam do governo através de eleições, na escolha de representantes para os poderes Executivo e Legislativo. Se os cidadãos são homens e mulheres que têm uma religião, suas escolhas serão influenciadas pelos princípios morais e éticos da sua fé. O que não quer dizer que essa influência seja perigosa para a sociedade, ao contrário, a boa formação religiosa dos cidadãos tende para a constituição de consciências amadurecidas, de pessoas preocupadas com o bem comum. Estados ateus ou teocráticos, em geral, não realizam eleições e, quando fazem, direcionam e condicionam os resultados. Não foi o que aconteceu num plebiscito realizado recentemente num país vizinho?

Um texto que foi escrito no século segundo depois de Cristo, chamado "Carta a Diogneto", diz o seguinte: “Os cristãos não são diferentes dos outros homens nem pelo território, nem pela língua, nem pelo modo de viver. Eles não moram numa cidade exclusivamente sua, não usam uma língua própria, nem levam um gênero de vida especial”. Esse texto apresenta a vida cotidiana dos cristãos como uma realidade comum e sem coisas extraordinárias, mas com homens e mulheres de fé profundamente inseridos na realidade dos lugares onde vivem.

A presença dos cristãos acabou por influenciar a vida social nos lugares onde eles habitavam e, com o tempo, fez surgir a moral e a ética centradas no respeito à pessoa. A sociedade ocidental, como a conhecemos, a cultura e a própria elaboração dos direitos humanos surgiram pela força do Evangelho e pelo testemunho dos cristãos. Thomas E. Woods Jr. apresenta claramente esse fato na obra "Como a Igreja Católica Construiu a Civilização Ocidental".

A força da fé não pode ser subestimada, mas também não deve ser manipulada e por isso é tão importante debater as questões políticas de forma clara e imparcial. O bem da cidade, do lugar onde moramos, está ligado aos governantes que elegemos. A formação de um pensamento político esclarecido é um dever cívico e um compromisso de fé. As escolhas que vamos fazer vão direcionar nossas vidas, quer participemos ou não do processo eleitoral, que vai da apresentação de candidatos e seus projetos até a eleição. Quanto conhecemos da vida pública dos candidatos? Quais são os projetos que apresentam ou que realizaram? As propostas apresentadas são possíveis ou serão apenas promessas de campanha? Essas são algumas perguntas que deverão orientar as escolhas.

Dom Devair Araújo da Fonseca
Bispo de Piracicaba

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