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Se “és morno”, “vou vomitar-te”: apontamentos do “duplo padrão”

Publicado em 18 de janeiro de 2024 - 13:46:53

Prezados leitores, é de perder a conta o número de vezes em que, nos últimos tempos, parte da imprensa ainda não dominada pelo establishment político atualmente em turno tem falado em “duplo padrão”.

Numa definição bastante simples, “duplo padrão” é a forma como são emitidas opiniões e realizados julgamentos –normalmente morais— distintos a situações iguais ou muito semelhantes, ou a pessoas que tenham estado numa mesma situação. Em outras palavras, é opinar, agir ou defender posicionamento de uma maneira em uma circunstância, e de outra diversa em circunstância igual ou semelhante.

Espero que alguns exemplos bem atuais ajudem a melhorar a compreensão sobre essa “doença da sociedade”.

- durante a campanha eleitoral em 2022, a justiça eleitoral permitiu propaganda em que um candidato à presidência da República chamava o outro de “genocida” (aquele que comete “genocídio”, definido em dicionário como o “extermínio deliberado, parcial ou total, de uma comunidade, grupo étnico, racial ou religioso”, sendo seu exemplo mais conhecido o assassinato de mais de 6 milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial). Entretanto, proibiu que outro candidato fosse chamado de “ladrão”, “lavador de dinheiro” ou “corrupto”, mesmo tendo sido condenado em três instâncias judiciais por delitos que lhe atribuíam tais pechas e por vários julgadores distintos;

- em janeiro de 2023 assistimos a diversas reportagens sobre a grave crise humanitária da tribo dos Yanomamis, destacadas por um bom tempo na “grande imprensa” como “mais um genocídio” provocado pelo governo anterior. Ocorre que o padrão de mortes em anos anteriores e a situação calamitosa de desassistência sanitária nas aldeias seguem sendo os mesmos, quiçá podendo ter piorado diante da alta taxa de mortalidade entre as crianças, a se verificar em breve e após a análise de dados ainda não apresentados. Fora as seguidas denúncias de exploração das terras por garimpeiros ilegais. E essa mesma “imprensa”, agora, pouco tem noticiado quanto ao descaso com que esses nossos irmãos têm sido tratados. E como último exemplo de uma extensa lista, temos:

- dias atrás um ministro aposentado do STF foi nomeado como o novo ministro da Justiça. Ocorre que pouco tempo atrás, para anular um processo contra o atual presidente da República, esse senhor utilizou como parte da fundamentação de seu voto o fato de que o então juiz do processo era “suspeito” pelas condenações impostas por haver atuado com “motivação política” por haver aceitado o mesmo cargo de ministro da Justiça, só que por nomeação de desafeto político do ex-condenado. É público e notório que o ministro aposentado proferiu uma série de decisões beneficiando esse ex-condenado e seu partido político durante toda sua atuação no STF, de maneira que fica a pergunta: sua excelência, então, no exercício do cargo de juiz “supremo”, teria atuado politicamente?

As razões pelas quais o duplo padrão está em alta não têm como ser analisadas a fundo neste artigo, apenas se podendo afirmar com razoável certeza que a polarização de opiniões no espectro político, se não é a causa primeira, seguramente é um elemento de fortíssima influência.

É de causar espanto que o duplo padrão a passos largos está se tornando o “novo padrão”, diante da leniência ou verdadeira cumplicidade de jornalistas e órgãos de imprensa em realizar críticas aos mandatários de plantão. E as razões para isso não podem ser confessadas, mas por óbvio são perpassadas por interesses ideológicos e/ou financeiros.

E qual o “antídoto”, a “vacina” para nos protegermos? Sejamos pessoas com retas intenções, preservando a qualidade da crítica e da autocrítica, evitando contaminações puramente ideológicas ou interesseiras; exercitemos as virtudes, em particular as chamadas “cardeais” (justiça, prudência, fortaleza e temperança), porta de entrada para todas as outras; e sejamos pessoas abertas ao diálogo, porém firmes e constantes nas condutas, “frio ou quente”, pois o Bom Deus que tudo vê já nos alertou: “porque és morno, nem frio nem quente, estou para te vomitar de minha boca” (Apocalipse 3,16). Não sei você, mas jamais arriscaria ser “vomitado” por Deus!

Coragem! Os tempos são duros, mas com Jesus venceremos o mundo (cf. Jo 16,32b-33)! Abraço fraterno a cada um!

Rogério Sartori Astolphi
Juiz de Direito
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