Os pobres como testemunhas da Luz de Deus

Evangelho (Jo 1,6-8.19-28)

No evangelho deste terceiro domingo do Advento, mais uma vez somos confrontados pela figura do profeta João Batista. Aquele que foi chamado para preparar o caminho do Senhor, se coloca em seu lugar e demonstra a alegria daquele que entendeu sua missão sendo humilde e pobre de espirito diante do mistério da salvação.

João está batizando na região de Betânia (Jo 1,28), lugar onde Jesus se refugiará muitas vezes, na casa de seus amigos, Lázaro, Marta e Maria. Importante entender que para os evangelhos a palavra Betânia (Beth-anawim) significa “casa dos pobres”. Anawim em hebraico, muito mais que pobres materialmente, tem uma conotação interior e espiritual.

De fato o Anawin é aquela pessoa despojada de si, que tem sua vida totalmente voltada para o Senhor e o serve em seu coração. Em hebraico esta palavra traz em si também um outro significado: “Aqueles que se curvam”. E este contexto tem tudo a ver com João Batista e conosco1.

Certa vez Jesus ao falar de João Batista, fez a seguinte pergunta: “ O que fostes ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? (Lc 7,24). Sua resposta em seguida nos surpreende, pois o Senhor afirmará que no deserto vimos João Batista, o maior nascido de mulher (Lc 7,28).

O que o Senhor quis dizer com isso? Veja que no evangelho de hoje, a palavra inicia dizendo, “Surgiu um homem e seu nome era João, ele veio dar testemunho da luz... Ele mesmo não era a luz mas veio para testemunha-la”(Jo 1,7). Assim o autor do evangelho, evidencia a missão do Verbo de Deus, que sendo a luz do mundo desceu para iluminar a quantos nas trevas andavam e que buscavam sair da sua letargia espiritual, ams por si mesmos não conseguiam. Assim sendo o Proprio Deus em Pessoa em Jesus Cristo, ilumina nossa vida.

Que luz é essa? É o próprio Cristo, que Isaias havia profetizado “O povo que andava nas trevas, viu-se uma grande luz”(Is 9.1). É justamente este anseio de quem anda errante na escuridão sem ver a sua frente a luz da esperança, que anseia em seu coração pelo socorro do céu2.

Se a palavra Anawuin, também siginifica “aqueles que se curvam”, logo podemos dizer que o verdadeiro pobre é aquele que se inclina e se submete a vontade de Deus. Já o profeta Sofonias havia explicitado que os pobres Anawin, são aqueles que se curvam a vontade de Deus (Sf 3,2).

Agora a mensagem do Evangelho fica clara: João Batista enquanto testemunha da luz, se curva diante do Cristo, e sua humildade o faz grande entre os nascidos de mulher, pois mesmo tendo recebido a missão diretamente de Deus, João afirmará: “ Eu não sou digno de me abaixar (curvar) e desatar a correia de suas sandálias” (Jo 1,26). Então antes de pregar aos pobres materialmente e espiritualmente, João assume em sua vida essas duas dimensões3. Assim sendo podemos fazer a seguinte pergunta: Mas quem é o pobre verdadeiro?

A resposta se encontra no mistério que estamos prestes a celebrar: No Natal, O Verbo de Deus se faz homem, desce e se inclina ante o Ser humano, caido. Ao se abaixar e esvaziar-se de si (Fl 2,6), Ele mesmo nos levanta e nos enche da sua vida divina, e com sua luz dissipa as trevas em nossa existencia!

Rafael Brito
Mestre e Doutorando em Teologia Dogmática - Gregoria - Roma

1 Cfr. SÃO GREGÓRIO DE NISSA, De beatitudinibus, oratio 1.
2 Cfr. ORIGENE, Commento al Vangelo di Giovanni 2, 224-227.
3 CIC 2544.