A palavra advento encontra suas raízes no latim (adventos), que significa vinda. Na liturgia, tal expressão foi ainda mais enriquecida pela tradição, que deu a ela o significado de: espera (Attesa). Assim sendo podemos dizer que são duas definições que se encontram: a vinda do Senhor e a espera do seu povo que em meio as tribulações da vida, anseiam que os céus se abram e que o Senhor desça, como diz a primeira leitura de hoje: “Ah se rompesses o céu e descesses” (Is 63,19).
A liturgia da palavra deste primeiro domingo do Advento, traz para nós a mensagem da importância de não desanimar mesmo diante dos percalços que as adversidades nos impõem. Ao mesmo tempo a mesma nos exorta manter nossos corações atentos e vigilantes ante a vinda do Senhor.
A profecia de Isaias na primeira leitura de hoje, nos ensina dois movimentos espirituais a qual a teologia chamará de movimento ascendente, que pode ser caracterizado como a súplica do coração do homem versus Deus e o movimento discendente que é o movimento de Deus versus (em direção) homem.
Ao mesmo tempo que o ser humano enquanto criado a imagem e semelhança de seu Criador, vive a expectativa do encontro com Ele, a doutrina da Igreja nos ensina que é o próprio Altíssimo que se move e desce até as profundezas das nossas misérias para nos encontrar1. Ora podemos afirmar que não depende então de nossos méritos ou da qualidade de nossas súplicas e desejo de voltar a comunhão, mas é o Senhor por primeiro que assim o quer. A verdade é que o Senhor não desistiu de nós e, portanto, nos fez capaz dele, para que possamos reconhecê-lo como o Pai de amor e redentor que não nos abandona jamais (Is 63,16)2.
O que vemos então, é que já no antigo testamento, o conceito de esperar em Deus já se fazia presente na religião dos patriarcas e profetas. Essa evidência a encontramos na resposta do salmo de hoje, que nos convida a reconhecer a necessidade da vinda redentora do Senhor para nos salvar de nossos pecados: “Iluminai a vossa face sobre nós, convertei-nos, para que sejamos salvos” (Sl 79). Sim este tempo de espera ativa e alegre da vinda do Senhor, nos faz refletir sobre a própria vida e conduta que devemos ter diante de Deus e do mundo.
A busca da conversão genuína, se faz necessária para que nos reconheçamos pecadores e necessitados da graça santificante em Jesus Cristo, por meio do seu Santo Espírito3. Esta conversão do coração impulsiona nosso Ser a viver com os pés no chão, e com a nossa alma rendida a Jesus, a tal ponto que nossa existência seja escondida Nele, que nos comunica o mistério da Salvação e participação como eleitos e filhos de Deus. Por isso o Apóstolo Paulo hoje nos diz assim: “Deus é Fiel e por Ele fostes chamados á comunhão com seu Filho Jesus, Senhor nosso” (1 Cor 3,9).
Por fim o Santo Evangelho ainda nos exorta a estarmos vigilantes. A vigilância que Jesus nos ensina, é relacionada ao modo de vida cristã. De fato, cada fiel deve se comportar, como se fosse o seu último dia da sua vida. Seu amor a Deus, a vivência sacramental e eclesial deve se tornar o hábito, o estilo de vida, o modo de se expressar no mundo. Ora, o Advento é o tempo da esperança do encontro com o Amado. E se não sabemos nem o dia e nem hora que Ele virá, logo o próprio Jesus, nos dará as diretrizes: “vigiai, portanto, porque não sabeis quando o dono da casa vem... para que vindo de repente não vos encontre dormindo” (Mc 13,35-37).
Os padres da Igreja, nos ensinaram que Jesus ao ordenar a vigilância a respeito de sua vinda, o fez também em sentido pedagógico. Por exemplo, uma pessoa que soubesse o dia e a hora exata que iria morrer, não correria o risco de transcurar a busca de comunhão e santificação com Deus?4 Invés viver uma vida de Advento constante, isto é, na espera ativa e alegre, nos faz estar prontos para o encontro com aquele que vem, para transformar nossas vidas e corações.
Por fim somos chamados no dia de hoje, a unir a nossa vida a de Cristo, mas também os nossos corações enquanto filhos da Igreja, deve estar em comunhão com nossos irmãos mais necessitados e na caridade assisti-los encontrando neles o rosto do Cristo vivo. Término essa reflexão com as palavras do nosso Bispo diocesano que nos ensina sobre o paradoxo do tempo e como não podemos controlar o que passou e o que há de vir. Mas podemos ser resposta para o hoje!
“Nós não podemos controlar o futuro, mas nós podemos estar atentos ao presente. Que a palavra de Deus seja a luz que nos ajuda no caminho”5.
Rafael Brito
Mestre e Doutorando em Teologia Dogmática - Gregoriana - Roma.
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1 Cfr. CONSTITUIÇÃO DOGMÁTICA DEI VERBUM, I,2.
2 Cfr. CIC ,35.
3 Cfr. CIC, 827.
4 Cfr. SANTO ATANASIO, Discurso contra os Arianos, 3.49.
5 DOM DEVAIR ARAÚJO DA FONSECA, Homilia primeiro domingo de advento 2021, Em Foco, Consultado em 21/11/2023