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1º Domingo do Advento, Ano B

Publicado em 29 de novembro de 2023 - 09:56:33
 
Leituras:
Is 63,16b-17.19b;64,2b-7
Sl 79(80),2ac.3b.15-16.18-19 (R. 4)
1Cor 1,3-9
Mc 13,33-37
 

O tempo da Espera do Senhor que vem

A palavra advento encontra suas raízes no latim (adventos), que significa vinda. Na liturgia, tal expressão foi ainda mais enriquecida pela tradição, que deu a ela o significado de: espera (Attesa). Assim sendo podemos dizer que são duas definições que se encontram: a vinda do Senhor e a espera do seu povo que em meio as tribulações da vida, anseiam que os céus se abram e que o Senhor desça, como diz a primeira leitura de hoje: “Ah se rompesses o céu e descesses” (Is 63,19).

A liturgia da palavra deste primeiro domingo do Advento, traz para nós a mensagem da importância de não desanimar mesmo diante dos percalços que as adversidades nos impõem. Ao mesmo tempo a mesma nos exorta manter nossos corações atentos e vigilantes ante a vinda do Senhor.

A profecia de Isaias na primeira leitura de hoje, nos ensina dois movimentos espirituais a qual a teologia chamará de movimento ascendente, que pode ser caracterizado como a súplica do coração do homem versus Deus e o movimento discendente que é o movimento de Deus versus (em direção) homem.

Ao mesmo tempo que o ser humano enquanto criado a imagem e semelhança de seu Criador, vive a expectativa do encontro com Ele, a doutrina da Igreja nos ensina que é o próprio Altíssimo que se move e desce até as profundezas das nossas misérias para nos encontrar1. Ora podemos afirmar que não depende então de nossos méritos ou da qualidade de nossas súplicas e desejo de voltar a comunhão, mas é o Senhor por primeiro que assim o quer. A verdade é que o Senhor não desistiu de nós e, portanto, nos fez capaz dele, para que possamos reconhecê-lo como o Pai de amor e redentor que não nos abandona jamais (Is 63,16)2.

O que vemos então, é que já no antigo testamento, o conceito de esperar em Deus já se fazia presente na religião dos patriarcas e profetas. Essa evidência a encontramos na resposta do salmo de hoje, que nos convida a reconhecer a necessidade da vinda redentora do Senhor para nos salvar de nossos pecados: “Iluminai a vossa face sobre nós, convertei-nos, para que sejamos salvos” (Sl 79). Sim este tempo de espera ativa e alegre da vinda do Senhor, nos faz refletir sobre a própria vida e conduta que devemos ter diante de Deus e do mundo.

A busca da conversão genuína, se faz necessária para que nos reconheçamos pecadores e necessitados da graça santificante em Jesus Cristo, por meio do seu Santo Espírito3. Esta conversão do coração impulsiona nosso Ser a viver com os pés no chão, e com a nossa alma rendida a Jesus, a tal ponto que nossa existência seja escondida Nele, que nos comunica o mistério da Salvação e participação como eleitos e filhos de Deus. Por isso o Apóstolo Paulo hoje nos diz assim: “Deus é Fiel e por Ele fostes chamados á comunhão com seu Filho Jesus, Senhor nosso” (1 Cor 3,9).

Por fim o Santo Evangelho ainda nos exorta a estarmos vigilantes. A vigilância que Jesus nos ensina, é relacionada ao modo de vida cristã. De fato, cada fiel deve se comportar, como se fosse o seu último dia da sua vida. Seu amor a Deus, a vivência sacramental e eclesial deve se tornar o hábito, o estilo de vida, o modo de se expressar no mundo. Ora, o Advento é o tempo da esperança do encontro com o Amado. E se não sabemos nem o dia e nem hora que Ele virá, logo o próprio Jesus, nos dará as diretrizes: “vigiai, portanto, porque não sabeis quando o dono da casa vem... para que vindo de repente não vos encontre dormindo” (Mc 13,35-37).

Os padres da Igreja, nos ensinaram que Jesus ao ordenar a vigilância a respeito de sua vinda, o fez também em sentido pedagógico. Por exemplo, uma pessoa que soubesse o dia e a hora exata que iria morrer, não correria o risco de transcurar a busca de comunhão e santificação com Deus?4 Invés viver uma vida de Advento constante, isto é, na espera ativa e alegre, nos faz estar prontos para o encontro com aquele que vem, para transformar nossas vidas e corações.

Por fim somos chamados no dia de hoje, a unir a nossa vida a de Cristo, mas também os nossos corações enquanto filhos da Igreja, deve estar em comunhão com nossos irmãos mais necessitados e na caridade assisti-los encontrando neles o rosto do Cristo vivo. Término essa reflexão com as palavras do nosso Bispo diocesano que nos ensina sobre o paradoxo do tempo e como não podemos controlar o que passou e o que há de vir. Mas podemos ser resposta para o hoje!

“Nós não podemos controlar o futuro, mas nós podemos estar atentos ao presente. Que a palavra de Deus seja a luz que nos ajuda no caminho”5.

 

Rafael Brito
Mestre e Doutorando em Teologia Dogmática - Gregoriana - Roma.

______________________________________ 

1 Cfr. CONSTITUIÇÃO DOGMÁTICA DEI VERBUM, I,2.
Cfr. CIC ,35.
Cfr. CIC, 827.
Cfr. SANTO ATANASIO, Discurso contra os Arianos, 3.49.
DOM DEVAIR ARAÚJO DA FONSECA, Homilia primeiro domingo de advento 2021, Em Foco, Consultado em 21/11/2023

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