Desde a antiguidade, as cidades tinham espaços sagrados destinados à construção de templos. Nas cidades de Roma e Atenas, por exemplo, ainda é possível encontrar os restos de antigos templos dedicados a deuses pagãos. Sobretudo em Roma, algumas dessas antigas construções foram modificadas e adaptadas, tornando-se igrejas cristãs. Historicamente, também é possível constatar que a construção de novas igrejas segue características arquitetônicas próprias do tempo. Dessa forma, foram construídas igrejas nos estilos românico, gótico, barroco e aquelas mais modernas.
No Antigo Testamento, o rei Davi sentiu o desejo de construir um templo para colocar a Arca da Aliança, porém o construtor do templo em Jerusalém foi seu filho Salomão. O templo tinha um lugar reservado, onde apenas o sacerdote entrava, e era ali que ficava guardada a Arca da Aliança. Durante os diferentes períodos de guerra enfrentados por Jerusalém, o templo foi destruído e reconstruído. Quando Ciro era rei dos persas, ele permitiu que o povo de Deus voltasse à sua terra. Naquele tempo, por volta de 520 a 400 AC, o sacerdote e escriba Esdras foi encarregado de reconstruir o templo. Mas por que reconstruir o templo se toda a cidade estava devastada e abandonada?
A reconstrução do templo não parece seguir uma lógica objetiva, isto é, reconstruir um templo enquanto toda a Terra Prometida estava em ruínas. Por trás dessa iniciativa existe algo maior, que é a reconstrução da identidade do povo. O templo é mais que uma bela construção ou um lugar para oferecer sacrifícios; ele é um lugar de ligação entre a pessoa e Deus. Um lugar onde as pessoas derramam o seu coração diante de Deus, na forma de oração, buscando consolo ou respostas que só podem vir desse encontro. Reconstruir a própria identidade é o primeiro passo para que o povo de Deus pudesse reconstruir a vida na Terra Prometida. Esse foi o primeiro trabalho de Esdras, a reconstrução da identidade espiritual do povo.
Nossa catedral está em processo de reforma e restauro, seguindo orientações técnicas e legais, além das indicações litúrgicas. Construída há quase 60 anos, ela se mantém sóbria e aberta para acolher penitentes, para ser um lugar de escuta da Palavra de Deus e celebração dos sacramentos, e sem dúvida nenhuma, um lugar para a caridade. Qual seria o valor de um belo templo se não aprendêssemos a ouvir que o sacrifício agradável a Deus é um coração contrito? Nossa identidade religiosa e espiritual sempre se fortalece quando colocamos em prática a Palavra ouvida, meditada e celebrada. Chamamos o templo de igreja, mas não podemos nos esquecer de que nós somos a Igreja, Povo de Deus, em todos os lugares.
Os trabalhos de reforma e restauro da catedral não atrasaram nem desviaram nossa atenção e recursos para com os pobres. Aliás, com a ajuda de parcerias e doações generosas, foi possível atender os mais necessitados em todo o território da diocese, bem como ajudar em outras situações de calamidade. A Pastoral Social cresceu em sua atuação, somando esforços com o Exército de Formiguinhas, os Vicentinos, a Pastoral Carcerária, da Criança, da Saúde, dos Idosos, além dos muitos e diversos trabalhos sociais das 68 paróquias, nos 15 municípios da nossa diocese. Assim, estamos nos preparando para celebrar os 80 anos da Diocese de Piracicaba. Também estamos respondendo ao convite do Papa Francisco para sermos uma Igreja em saída que não se esquece dos pobres.
Dom Devair Araújo da Fonseca
Bispo de Piracicaba