Em nosso artigo de setembro começamos a discutir a possibilidade de que o pensamento vigente de “preferir pets no lugar de filhos” não fosse algo tão original assim, nem fruto da evolução “natural” dos tempos. Começamos a narrar como foi que alguns agentes norte-americanos (magnatas, demógrafos, fundações, etc.) perceberam a necessidade de influenciar a sociedade a conduzindo a uma cultura de “mentalidade contraceptiva”, ou melhor dizendo, a uma Cultura de Morte.
Como é que uma sociedade de costumes tão enraizados, em que o casamento era sagrado, as famílias eram tão numerosas e o aborto era considerado um crime hediondo, passa, em questão de poucas décadas, ao extremo oposto?
Antes de mais nada, é necessário entender como é que estava esta sociedade quando foi percebida a necessidade de tais mudanças em sua estrutura. Havia muito tempo que as instituições educacionais tinham deixado de ser o lugar onde os “amantes da sabedoria” buscavam o conhecimento da Verdade, através da meditação e contemplação das coisas criadas e da Revelação dada por Deus ao Homem. No contexto da nossa narrativa, a Educação já tinha decaído para o que podemos chamar de Ensino Clássico: uma educação que acabava por formar a virtude cívica no Homem, ensinava Latim e Grego para que pudesse ter acesso a mais de 2 mil anos de história do conhecimento humano, adquiria uma alta cultura, enfim, o preparava para saber atuar de maneira justa e responsável na sociedade.
Na virada do século XIX para o XX surge a psicologia moderna, e com ela uma nova concepção do homem que é transplantada para a Pedagogia e serve muito bem aos interesses econômicos: o ser humano desprovido de Vontade, que tem comportamento moldável por estímulos que geram respostas esperadas.
Sem que as pessoas em geral percebam a profundidade do problema que viria, o Ensino Clássico foi sendo substituído aos poucos pelo Ensino Profissionalizante, e o homem deixaria de compreender a sociedade como um todo e passaria a adquirir as “competências e habilidades” para atuar como um excelente profissional... mas tão e somente naquela área específica! É assim que o médico passa a ser ortopedista ultra-especialista em cirurgia no joelho, e não me venha falar de ombro ou coluna, que isso é com outro médico! Assim sendo, como se esperar que ele saiba também de economia, geopolítica, sociologia, relações internacionais, música ou arquitetura?
O problema está em que o ser humano, podendo conhecer a Verdade, a ordem do universo, o Deus que o criou, passa a vida estudando absurdamente sobre articulações específicas de ossos, entende tudo de joelho e nada de todo o resto. Essa pessoa tida por inteligentíssima, poderá ser enganada facilmente em todos os demais assuntos!
Foi nessa fase transitória que o Sr. Rockefeller III se deu conta de que a antiga geração, educada ainda pelo Ensino Clássico, jamais admitiria que uma instituição filantrópica se preocupasse com a legalização do aborto nos países do mundo afora, e seria necessária a criação de uma nova entidade, a partir de uma nova mentalidade: o Conselho Populacional.
Veremos mais a fundo nos próximos artigos em que consiste essa mudança educacional e como foi que ela preparou a sociedade para sua nova mentalidade.
Camila Sordi Gil
Grupo de Estudos Pró-Vida
FONTE:
LIONNI, Paolo. A conexão de Leipzig. Vide Editorial, Campinas, 2020.
NOCK, Albert Jay. A Teoria da Educação nos Estados Unidos. Fides et Ratio, Cotia, 2022.
UNIVERSIDADE DE YALE. A Educação Superior e o Resgate Intelectual – O Relatório de Yale de 1828. Vide Editorial, Campinas, 2016.