A família é uma realidade social com fortes raízes, sendo “uma sociedade soberana, embora com muitos condicionalismos, sujeito de direitos e de deveres, ainda antes do Estado. Apesar disso, a família é muitas vezes vítima da sociedade, de situações de patente injustiça. A Igreja tem defendido abertamente os direitos da família contra as intoleráveis usurpações da sociedade e do Estado. Em 1983, a Santa Sé publicou a Carta dos Direitos da Família, tão atual hoje como nesse ano. Os direitos da família estão estritamente conexos com os direitos do homem [...]” (p. 89).
Alguns desses direitos estão ligados diretamente à família, “como o direito dos pais à procriação responsável e à educação da prole; outros direitos referem-se só indiretamente à família, como são o direito de propriedade, especialmente a chamada propriedade familiar e o direito ao trabalho. Um direito fundamental da família é o direito do pai de família receber um salário justo pelo seu trabalho: salário que seja suficiente para satisfazer as necessidades da família” (p. 89). A família é de suma importância na educação de seus filhos e na constituição do Estado.
A revolução industrial – a partir do século XIX – trouxe “perturbações na vida dos indivíduos, das famílias, da sociedade, nas relações entre as várias classes. Tal revolução industrial foi assim a causa da chamada questão social, colocando alguns problemas graves à consciência cristã” (p. 91). Várias questões foram colocadas, entre elas: “Como acabar com as injustiças sociais que lançavam multidões de operários na miséria? Como corrigir a clamorosa desigualdade na distribuição dos bens deste mundo? Os trabalhadores teriam direito de se agruparem para defesa dos seus interesses” (p. 91).
Uma das questões que a Doutrina Social da Igreja dá grande destaque “é a do trabalho humano: a grande questão social. No 90° aniversário da Rerum Novarum, em 1981. João Paulo II publicou uma encíclica sobre o trabalho humano – a Laborem Exercens – na qual o Papa centra a questão social no trabalho como a verdadeira chave do problema. Para João Paulo II, a palavra trabalho designa toda a atividade realizada pelo home, tanto manual como intelectual” (pp. 91-92). É bom lembrarmos que o próprio Jesus exerceu trabalhos manuais, colaborando na carpintaria de seu pai adotivo.
O trabalho é característico da pessoa “e, portanto, o seu carácter pessoal significa que a pessoa humana do trabalhador se encontro no seu trabalho com tudo quanto é: forças físicas, as suas faculdades de inteligência, a sua iniciativa, a sua vontade, e também os seus encargos e responsabilidades de homem – de chefe de família e, ainda, o objetivo, motivos e propósitos que ele põe no seu trabalho e que o levam a dar o verdadeiro sentido ao mesmo: o de construir um meio a dar o verdadeiro sentido ao mesmo: o de constituir um meio de ganhar a vida de modo a poder levar uma existência humana, sustentando-se e sustentando e educando a sua família” (p. 92).
A dignidade do trabalho é conferida pela “dignidade da pessoa humana do trabalhador. O trabalho não pode desligar-se da pessoa do trabalhador. Pelo contrário, ele é inerente à sua pessoa. Este é o ensinamento da Doutrina Social da Igreja, contra o qual esbarram as concepções de liberalismo e do socialismo. De fato, enquanto que o liberalismo econômico assemelha o trabalho humano a uma mercadoria (a força de trabalho que o trabalhador vende e o capital compra, sujeita à lei da oferta e da procura), o socialismo (especialmente o científico ou comunismo) só se vê nele uma força produtora ao serviço do Estado socialista” (p. 93).
Pe. Antônio Carlos D´Elboux
Pároco da Paróquia Sagrado Coração de Jesus
Saltinho – SP
Referência:
CAMACHO, Ildefonso. Cristãos na Vida Pública. Coimbra, Gráfica de Coimbra, sem ano.