Desde os seus inícios, “a Igreja tem formulado, pregado e praticado um ensino social [...] como se constata nos Atos dos Apóstolos (At 2-4-6), a Igreja esteve sempre atenta a encarnar os princípios evangélicos. De São Paulo (ver Carta aos Romanos) aos Padres da Igreja, de vários Papas da Idade Média a Papas mais recentes, tais como Bento XIV no século XVIII, e Gregório XVI no século XIX, a preocupação da Igreja pelas questões sociais foi uma constante, manifestando-se em cartas pastorais, em mensagens quaresmais e sermões” (p. 44).
Foi o Papa Leão XIII quem deu uma resposta bem concreta aos problemas sociais da sua época, originados com o advento da industrialização, escrevendo, em 1891, a encíclica Rerum Novarum – “a primeira das grandes encíclicas sociais. Esta encíclica tem sido considerada a magna cata do catolicismo social moderno. Dá como ponto assente o direito à propriedade privada como elemento fundamental de qualquer ordem social reta. Refuta a luta de classe, considerada pelo socialismo como impulsionadora do progresso da história e da sociedade” (pp. 46-47).
Em 1931, o Papa Pio XI lançou outra grande encíclica social, a Quadragesimo Anno. “O próprio capitalismo evoluiu até aos grandes monopólios e os desprovidos de bens eram, agora, os assalariados rurais e os trabalhadores dos países mais atrasados na sua industrialização. Do liberalismo nasceu uma nova ideologia – o neo-liberalismo – e dos velhos socialismos pré-marxistas nasceram o comunismo soviético e os socialismos moderados” (p. 47). Pio XI critica o socialismo, distancia-se do liberalismo econômico e denuncia os exageros da livre concorrência.
Para o Papa Pio XII as duas grandes encíclicas da doutrina social da Igreja – a Rerum Novarum e a Quadragesimo Anno – são fundamentais. Por isso ele “empenhou-se na aplicação do seu ensino nas circunstâncias concretas de cada momento. Esse empenho manifestava-se nos seus discursos e alocuções, utilizando assiduamente a rádio para difundir os seus vários ensinamentos por meio de inúmeras mensagens radiofônicas, especialmente as radiomensagens natalícias, onde dava “preferência à democracia em vez do totalitarismo de alguns Estados” (p.49).
O Papa João XXIII, no 70º aniversário da Rerum Novarum, em 1961, escreve a encíclica: “a Mater et Magistra que, além de uma síntese da Rerum Novarum, trata de temas antigos como o salário e a propriedade privada, trazendo um tema novo para a doutrina social – a socialização; trata ainda dos desequilíbrios da economia mundial (países desenvolvidos e países subdesenvolvidos. Etc.), acabando por convidar à colaboração mundial” (pp. 49 e 50). Em 1963, ele lança a Pacem in Terris, encíclica sobre direitos e deveres da pessoa humana e das comunidades e a atuação do cristão na vida política.
Em 1967, o Papa Paulo VI publica a encíclica Populorum Progressio. “O Papa dirige esta encíclica a toda a humanidade e nela faz um apelo urgente à ação solidária perante a situação socioeconômica dos povos pobres do Terceiro Mundo, constituindo uma tarefa inadiável o desenvolvimento desses povos de modo a passarem de condições de vida menos humanas a condições de vida mais humanas, sendo cada vez mais claro que o desenvolvimento é o novo nome da paz, de modo a apaziguarem as tensões e discórdias resultantes das excessivas disparidades econômicas, sociais e culturais” (p. 50).
Pe. Antônio Carlos D’Elboux
Pároco da Paróquia Sagrado Coração de Jesus
Saltinho – SP
Referência:
CAMACHO, Ildefonso. Cristãos na Vida Pública. Coimbra, Gráfica de Coimbra, sem ano.