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A inconformidade cristã

Publicado em 5 de setembro de 2023 - 10:42:40

Uma das características marcantes da sociedade moderna é a sua alta capacidade de adequação e adaptação ao que é novo. Por essa qualidade, a sociedade tende a mudar rapidamente os padrões sociais e os valores até então considerados consolidados. Tudo parece ser maleável ou líquido, é o que afirma o sociólogo Zygmunt Bauman. Não é estranho notar que essa característica da sociedade muito provavelmente tenha chegado também à Igreja. Isso quer dizer que há indícios de que a fé e o comportamento dos cristãos venham sofrendo adaptações contrárias à doutrina.

Quando o apóstolo São Paulo escreveu à comunidade cristã que estava em Roma, ele os convidou a não se conformarem com o mundo, mas a se transformarem. Primeiro é preciso dizer que a comunidade cristã, na grande cidade, não era tão numerosa, algumas centenas de pessoas, não mais que isso. Essa realidade mostra o enorme desafio que significava a proposta do Evangelho. Desafiar a mentalidade e os padrões sociais da época, vivendo a Verdade do Evangelho. Paulo convidou os cristãos a uma inconformidade com o mundo, de modo não violento, mas que fosse capaz de mostrar o modo de ser e viver dos discípulos de Jesus. Passados pouco mais de dois mil anos, os cristãos ainda são desafiados à inconformidade com o mundo.

No final do mês de agosto, o Papa Francisco partiu para mais uma viagem apostólica. Dessa vez ele foi à Mongólia, um pequeno país asiático. Segundo dados do Vatican News, órgão autorizado do Vaticano, a Mongólia tem uma população de três milhões e meio de habitantes. Desse total, sessenta mil são cristãos de várias denominações, os católicos somam apenas mil e quinhentos batizados. Ainda segundo as informações divulgadas, os católicos eram apenas quatorze em 1995. Nesse contexto surgem duas perguntas. Por que esse grupo restrito de católicos não se conformou com a grande maioria e cresceu em número? Por que o Papa Francisco foi a um lugar tão distante, visitar uma comunidade tão pequena?

Responder a essas perguntas exige um olhar mais atento. Vivemos num país de maioria cristã e ainda, de acordo com as fontes do IBGE, com maior parcela de católicos, numa população de mais de duzentos e dez milhões de habitantes. Nesse contexto favorável deveríamos supor que algumas questões e valores já estivessem suficientemente consolidados. É de se considerar que os cristãos, independentemente da denominação, pelos seus valores morais e comportamento ético, tivessem capacidade de influenciar positivamente a realidade social, mesmo no estado laico. No entanto, estamos discutindo a legalização do aborto, a aprovação de drogas ilícitas, constatamos casos frequentes de corrupção, o aumento da violência e da pobreza, tudo isso atrelado a um viés de interesses políticos e ideológicos.

A distância histórica que separa a carta de São Paulo aos Romanos e a visita do Papa Francisco à Mongólia é grande, mas tem semelhança no objetivo, que é animar e manter viva a fé da comunidade em Cristo Ressuscitado. A não conformidade do modo de ser cristão com a proposta do mundo, da sociedade líquida, será sempre um desafio. A neutralidade diante das mudanças ou a aceitação passiva das contradições propostas e influenciadas pela cultura ou pela mídia não podem ser fundidas com o Evangelho, sob falsos pretextos de acolhimento e aceitação que, na verdade, não passam de meros discursos por conveniência, uma "acomodação" que negligencia a Verdade e o Amor de Deus por todos nós. Não é possível confundir o Reino de Deus com um projeto humano e imanente, apenas de natureza política ou sociotransformadora.

Conservar, transmitir e testemunhar a solidez da fé é responsabilidade da Igreja, que se concretiza no ensinamento do magistério e na vida dos batizados. O Reino, que começa a ser vivido na realidade deste mundo pelos cristãos, é de natureza transcendente. Na eternidade viveremos em plenitude o que agora experimentamos pelos sinais de vida nova. A inconformidade dos cristãos com o mundo é sinal de esperança e testemunho do Evangelho.

Dom Devair Araújo da Fonseca
Bispo de Piracicaba

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