Os seres humanos são iguais, “embora diferentes uns dos outros nas suas capacidades físicas, possibilidades intelectuais e morais, que são muito diversas. Esta diversidade constitui a base da originalidade de cada pessoa, que pode contribuir com os seus ‘talentos’ para a construção da sociedade” (p.31). “Essa igualdade de todos os homens entre si deve ser não só conscientemente reconhecida, mas também aplicada, e cada vez mais, pois essa igualdade constitui a base da justiça social. Qualquer discriminação nos direitos fundamentais da pessoa [...] deve ser banida porque isso o exige a igual dignidade das pessoas” (p.32).
Os seres humanos são iguais, “mas as desigualdades entre eles são um fato: umas inevitáveis e naturais – estas tornam os homens complementares entre si, contribuindo cada um com a sua originalidade para a construção da sociedade; outras escandalosas e discriminatórias – estas são desigualdades a ser evitadas tendo a sua origem na injustiça humana” (p.32), ocasionadas por razões de sexo, de religião, de cor, de etnia, de condições sociais, de língua ou do lugar de origem. Precisam também ser eliminadas “grandes desigualdades econômicas e sociais, quer entre os homens, quer entre os povos” (p.32).
A pessoa humana se expressa no trabalho. “Além de pessoal, o trabalho é, portanto, necessário, constituindo o meio de prover à sua vida e à da sua família não só o sustento imediato (o pão de cada dia), mas também outras necessidades, tais como prover o bem-estar, seu e da sua família (casa, vestuário...). assim como tratamento de doenças, proteção dos riscos profissionais e a provisão, sob a forma de economias, com vista à velhice e às situações de desemprego ou de impossibilidade de trabalhar, entre outras” (pp.35-36). O trabalho também é social, pois aproxima os homens e os une em uma mesma tarefa para o bem comum.
Os seres humanos vivem sendo ameaçados e correndo os mais diversos perigos. Os “erros dos sistemas que, desconhecendo a verdadeira natureza humana, querem arrastar os homens no logro de uma falsa liberdade ou os sujeitam à ditadura de um homem, de um clã ou mesmo do próprio Estado; os abusos dos regimes econômicos, a socialização de todas as coisas, a influência da tecnocracia, a bivalência dos progressos científicos” (p.36). Diversos sistemas ideológicos ou políticos pretendem solucionar os problemas levantados pelos homens e suas organizações e pelo Estado, destacando-se entre eles o liberalismo e o socialismo.
O liberalismo quer “produzir sempre mais, cada vez mais, promovendo a maior acumulação possível de riqueza para se conseguir o maior bem-estar material [...]. O liberalismo econômico reclama a liberdade completa dos produtores e a livre concorrência para a obtenção do máximo rendimento, não devendo o Estado intervir na economia. Reclama ainda a liberdade de preços e salários, deixando, assim, uma porta aberta a todos os abusos na exploração dos trabalhadores, negando a formação de grupos de organização profissional e de sindicatos para não sentirem qualquer constrangimento na sua liberdade” (p.37).
O socialismo e suas doutrinas levaram o proletariado a tomar consciência da própria situação de miséria em que vivia e “a multidão de proletários começava a expressar de vários modos o seu descontentamento procurando lutar contra essa situação. E assim se foram organizando associações de operários de carácter eminentemente reivindicativo, que coordenavam a luta contra as condições de trabalho, os salários de miséria, o desemprego, a insegurança” (p.38). Infelizmente, na sua prática, em muitos lugares foram desprezadas a dignidade e a liberdade das pessoas, obrigando-as à total subordinação ao Estado.
Pe. Antônio Carlos D’Elboux
Pároco da Paróquia Sagrado Coração de Jesus
Saltinho – SP
Referência:
VERDETE, Carlos. Doutrina Social da Igreja. Lisboa, Paulus, 2007.