O ser humano vive em uma comunidade racional que "caracteriza-se por uma cooperação consciente e voluntária entre os seus membros e funda-se em dois princípios: a interdependência e a reciprocidade" (p. 25). Por princípio de interdependência entende-se que todo homem é um ser relativo, incompleto, que não se basta a si próprio, necessitando dos outros para se completar" (p. 25). Por princípio da reciprocidade, o homem sabe que o que deve aos outros, pelos outros lhe é devido, na mais perfeita e livre aplicação da regra de ouro, tanto na positiva quanto na negativa" (p. 25).

O homem e a mulher são seres livres. "A liberdade humana tem uma dimensão intersubjetiva: a liberdade de cada um só adquire um conteúdo adequado na medida em que se abre à liberdade de outro, em que todos os valores que ela cultiva se tornam meios para um encontro pessoal, uma comunicação das consciências. Ninguém é livre sozinho – nem livre, nem feliz" (p. 26). "Pelo fato de ser senhor de si mesmo e de seus atos, o ’eu autônomo’ é, além disso, inalienável, inviolável, respeitável, possuindo um fim próprio que ele quer e ama" (p. 27).

Cada ser humano nasce e vive em uma cultura que "depende, em primeiro lugar e antes de mais nada, da própria natureza, ou seja, do espaço físico, geográfico, onde vivem as pessoas, com o seu solo e o seu subsolo, solo a ’cultivar’ e subsolo a ser trabalhado para obter proveito. Em segundo lugar, a cultura depende de alguns processos materiais – a técnica e a tecnologia – e de algumas estruturas sociais – organização e tipos de relações humanas, educação – e, por fim, aspectos espirituais – crenças, valores religiosos" (pp. 27-28). O homem e a mulher recebem influência e também influenciam.

As pessoas são influenciadas pelas próprias instituições, mas ao mesmo tempo, exercem também influência nelas, levando, aos poucos, lenta ou rapidamente, à sua transformação. Essa transformação tem seu início no campo do pensamento, no nível do modo de pensar das pessoas, pois é do produto ideológico desse modo de pensar que resulta a modificação das normas institucionais e, por consequência, das próprias instituições" (p. 29). E todas as pessoas se cercam de estruturas organizacionais, as mais diversas, que organizam seus relacionamentos nos grupos humanos.

As estruturas são necessárias para "a concretização da interdependência dos membros de qualquer instituição humana de modo a dar um sentido à sua atividade: alcançar os objetivos do grupo. A estrutura ou organização vai desde uma completa ausência em determinados conjuntos humanos até ao máximo que se pode verificar em muitas instituições, apresentando vários graus crescentes de uma até à outra. A ausência completa de organização verifica-se nas grandes reuniões de acaso, sem um fim comum aos seus componentes. É o caso das multidões, onde as pessoas estão apenas aparentemente agregadas..." (p. 30).

O ser humano "transcende as coisas e seus direitos e deveres são universais e invioláveis. Todo homem tem direito a uma vida verdadeiramente humana, para o que deve ter acesso a tudo aquilo de que necessita, quer se trate de necessidades materiais ou espirituais, de necessidades objetivas e subjetivas, individuais e coletivas, presentes e futuras. No entanto, a ordem das coisas deve ser subordinada à das pessoas e não o contrário. E qualquer grupo humano deve preocupar-se com as necessidades e exigências legítimas de outros grupos" (p. 31), embora diferentes uns dos outros. 

Pe. Antônio Carlos D’Elboux
Pároco da Paróquia Sagrado Coração de Jesus
SALTINHO - SP

Referência:
VERDETE, Carlos. Doutrina Social da Igreja. Lisboa, Paulus, 2007.