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A Palavra e os símbolos

Publicado em 22 de agosto de 2023 - 16:45:34

A linguagem simbólica é uma das formas mais antigas de comunicação humana, talvez até mesmo a mais antiga e a primeira. Por meio dos símbolos, os seres humanos se expressam com algo que vai além das palavras, porque a linguagem simbólica também pode expressar sentimentos, ideias ou comandos. O nosso dia a dia está repleto de linguagem simbólica, como, por exemplo, os sinais de trânsito e alertas, as indicações de direção para lugares específicos, como praças de alimentação e banheiros em shoppings. Na internet e nas redes sociais, são usados os emojis, figurinhas ou desenhos, que são uma forma de linguagem simbólica.

A linguagem simbólica é uma forma humana de comunicação; sendo assim, cada época ou cultura pode ter seu jeito de se expressar e, para ser universal, essa linguagem precisa de um acordo ou regulamentação. É o que acontece com as cores dos semáforos; as luzes usadas significam o mesmo em qualquer país. A Sagrada Escritura também usa muitas vezes uma linguagem simbólica; porém, ela não é palavra humana e sim palavra divina. Exatamente porque é palavra divina, a Escritura não está sujeita a explicações ou correções humanas. A interpretação correta da Escritura exige a escuta atenta do Espírito Santo, a conformidade com a Tradição e a autoridade do Magistério.

Como Palavra de Deus, a Sagrada Escritura fala da Aliança que Ele celebrou com seu povo. A aliança é também uma promessa, que foi sendo realizada ao longo do tempo e da história, apontando para a sua plenitude. Homens e mulheres do povo de Deus experimentariam em suas vidas a fidelidade de Deus e viram realizada, pela fé, essa aliança. Na plenitude dos tempos, isto é, quando foi possível falar mais diretamente ao homem, o Verbo de Deus, Jesus Cristo, assumiu a nossa natureza humana para cumprir a promessa e realizar plenamente a aliança. Na ascensão, isto é, quando Cristo subiu ao céu, apresentou ao Pai a humanidade que foi por ele assumida e redimida.

O dogma da Assunção da Virgem Maria nos coloca diante do aspecto central da salvação que vem de Cristo. Os dogmas que envolvem a pessoa de Maria são quatro: a maternidade, a virgindade perpétua, a concepção sem o pecado e a Assunção, sendo esse o último a ser proclamado em 1950. Por essa proclamação, a Igreja afirma que Maria não experimentou a corrupção da morte, mas foi assunta, isto é, levada ao céu, sendo assim a primeira criatura a experimentar a promessa da ressurreição. O que para nós é ainda promessa, em Maria, é já uma realidade. Enquanto caminhamos confiantes na fé, acreditamos na promessa já realizada em Maria, não como um privilégio pessoal, mas como sinal da promessa cumprida e – por que não dizer? – "símbolo" que aponta para aquilo que poderá se cumprir em nós.

No Antigo Testamento, a arca da aliança era sinal da presença divina. Ela foi construída seguindo as instruções que Moisés recebeu, para guardar as tábuas da Lei, e acompanhou o povo no caminho pelo deserto. Quando o templo foi construído, a arca foi guardada no lugar mais sagrado do templo, onde os sacerdotes entravam para oferecer incenso a Deus. O final do capítulo 11 do livro do Apocalipse menciona uma visão da arca, durante a batalha final e a vitória de Cristo. Um dos títulos atribuídos a Maria, na tradição da Igreja, é Arca da Aliança. Novamente, numa linguagem simbólica, para indicar que foi ela quem acolheu e gerou para o mundo o Verbo, Jesus, o Filho de Deus.

Maria tornou-se o sinal das grandes coisas que Deus fez; ela mesma reconheceu e cantou a maravilhosa ação de Deus, quando visitou sua prima Isabel. Ela proclamou a força de Deus que venceu e derrubou os poderosos de seus tronos. A alegria de Maria não é por ela mesma, mas por ver realizada a promessa, porque Deus cumpriu a aliança. Foi por escutar a Palavra que Maria concebeu o Cristo, e também foi por escutar que ela compreendeu, pela fé, a sua história e a história de seu povo. Em Maria, o sinal de Deus se apresenta de forma clara e objetiva. Maria soube fazer em tudo a vontade do Pai e, na graça do Espírito, ela indicou: "Fazei tudo o que ele (Jesus) indicar". Assim, a Revelação e o sinal se completam, sem contradição e sem confusão.

Dom Devair Araújo da Fonseca
Bispo de Piracicaba
 
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