Existe uma fábula infantil que narra a história de um homem que encontrou uma lâmpada mágica. De dentro da lâmpada saía um gênio que poderia atender a três desejos do dono da lâmpada. A história infantil trabalha com algumas realidades humanas como desejos, vaidades, ganância e egoísmo. Se a história fosse real e essa lâmpada estivesse em nossas mãos, quais seriam os três desejos que faríamos? O que viria em primeiro lugar, fama e fortuna? Ou quem sabe beleza e juventude? Seria bom pensar bem, pois esses três desejos poderiam mudar o rumo da vida. Vale a pena pensar antes de escolher.
Na Escritura, existe um relato onde o jovem Salomão, rei de Israel e filho de Davi, foi visitado por Deus num sonho e lhe foi concedido fazer um pedido, sem maiores indicações ou limitações. A resposta do jovem foi surpreendente, pois, ao invés de pedir poder, riquezas ou mesmo a morte de seus inimigos, ele pediu sabedoria. Salomão justificou o seu pedido levando em consideração que o povo de Deus era numeroso e ele era apenas um jovem, sem experiência e conhecimento. A escolha de Salomão é fruto, antes de tudo, do seu temor a Deus, por isso ele venceu o egoísmo e pensou no bem do povo. Salomão estava em busca de algo mais precioso.
Em uma das parábolas do Reino, Jesus falou de um homem que foi em busca de um tesouro e também de um comerciante que procurava pérolas preciosas. Quando encontraram, os dois venderam todos os seus bens para adquirir aquilo que era mais precioso. Dessa forma, o Reino é ao mesmo tempo um dom recebido e uma conquista. O Reino é um dom oferecido por Deus a todos, mas só é reconhecido por quem está à sua procura e por quem se arrisca para consegui-lo. Mas, ao contrário do que possa parecer, as parábolas sobre o reino não são fábulas infantis e Deus não é um “gênio da lâmpada” que vem para atender desejos.
Em uma sociedade fortemente marcada pelo egoísmo, fica difícil pôr em prática o altruísmo, a abnegação ou o desapego, pois quase tudo gira em torno dos próprios interesses. Parte das relações humanas parecem batalhas de superação de uns pelos outros, isso acontece no trabalho, na escola, na política e no mundo corporativo. Nesse contexto, o outro é mais um obstáculo ou um empecilho a ser vencido do que uma pessoa. Em primeiro lugar, está “o meu interesse”, “o que me convém”, “a minha vontade” e “o meu prazer”. O egoísmo acaba se tornando uma patologia que vai contaminando toda a sociedade e as relações interpessoais.
Outra questão sobre o egoísmo é o que acontece com as pregações milagreiras, que prometem a intervenção mágica do “gênio da lâmpada”. A promessa é que Deus vai conceder os desejos de imóveis, carros, dinheiro e até empresas. Só que, ao invés de esfregar a lâmpada, é preciso pagar uma taxa e quanto maior a taxa, maiores os benefícios, que não ficam limitados a três desejos. Uma pregação voltada para o ego dos ouvintes, fundamentada apenas na prosperidade material, não pode ser chamada de anúncio do Evangelho.
Uma proposta que leva à inversão dessa realidade não é fácil, mas essa é a proposta da vida cristã. Quando alguém sai em busca do “tesouro”, tem que arriscar tudo de si, isto é, precisa comprometer-se. O compromisso é a mudança de atitudes que põe o outro em primeiro lugar e o enfrentamento das oposições que consideram as pessoas como inimigas. Chegar a essa mudança exige a Sabedoria que vem do Alto, o que na prática corresponde àquela escolha feita pelo jovem Salomão. O Reino proposto por Jesus não vem com a luta de classes, como defendem alguns, mas sim pela mudança de mentalidade e atitudes que sejam verdadeiramente cristãs e fundamentadas na Verdade do Evangelho.
Dom Devair Araújo da Fonseca
Bispo de Piracicaba