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Necessidade e curiosidade

Publicado em 5 de julho de 2023 - 14:34:29

As atitudes humanas são motivadas por necessidade ou curiosidade, e ambas as motivações podem variar muito de acordo com as circunstâncias. A curiosidade diante do desconhecido pode ser a motivação para novas descobertas; muitos avanços científicos aconteceram dessa forma. A necessidade, como motivação, pode surgir de uma realidade humana, como a sede ou a fome, mas também pode ser construída artificialmente, como a necessidade de adquirir coisas supérfluas ou buscar experiências extremas para obter satisfação pessoal.

A curiosidade, como uma forma de adquirir conhecimento, levou o homem primitivo à descoberta de como fazer o fogo, usar metais e até mesmo criar ligas metálicas, como o bronze. A mesma curiosidade levou a descobertas das máquinas a vapor e sua utilização como ferramentas para o desenvolvimento humano. A penicilina foi outra descoberta curiosa que salvou muitas vidas. A relação entre as coisas descobertas pela curiosidade humana é incontável e abrange as mais diferentes e variadas situações. Claramente, a curiosidade humana também foi responsável por acidentes e tragédias.

As necessidades podem variar muito, dependendo da situação de cada pessoa. As necessidades básicas são comuns a todos os seres humanos e precisam ser atendidas, até mesmo por uma questão de sobrevivência. No entanto, é preciso considerar que, em determinados lugares, uma pessoa mata a sede com uma garrafinha de água mineral, enquanto em outros lugares a água que mata a sede é barrenta ou salobra. A sociedade de consumo também cria necessidades, gerando comércio. É necessário usar roupas da moda, trocar o carro ou celular por modelos mais recentes, entre muitas outras coisas. Mas quem define o que é necessidade ou simples curiosidade?

Considerando o livre-arbítrio, a necessidade e a curiosidade dependem, em grande parte, da condição socioeconômica de cada indivíduo. O que é uma necessidade para alguém pode ser mera curiosidade para outro. Todos os anos, milhares de pessoas, refugiados e migrantes, arriscam-se a atravessar mares e cruzar fronteiras para chegar a outro país. Segundo dados da ONU1, em 2020, o número de pessoas que fizeram isso ultrapassou os 272 milhões. A motivação foi a necessidade de trabalho, segurança ou simplesmente sobrevivência, mas parte dessas pessoas não alcançou seu objetivo. Estima-se que mais de 5 mil migrantes desapareceram. Onde estão seus corpos?

Outro número significativo registrado pela ONU2 foi o de turistas em 2019, que alcançou 1,5 bilhão de pessoas movidas pela curiosidade de conhecer outra cidade, outro país, belezas naturais ou arquitetônicas. Claramente, essa movimentação de pessoas gerou renda, impostos, desenvolvimento e trabalho para muitas outras pessoas. O turismo é um negócio lucrativo para agências de viagens, hotéis, restaurantes e todos os tipos de empresas de transporte. Podemos dizer que se trata de uma curiosidade lucrativa, e quanto maior for a curiosidade e o poder aquisitivo, maior será o desejo de conhecer o desconhecido. Será que podemos chamar isso de curiosidade turística?

Nas últimas semanas, parte do tempo dos noticiários e das redes sociais foi ocupada para apresentar os fatos sobre o desaparecimento de turistas que foram ver, por uma pequena janela, os restos de um navio naufragado. Um grande esforço foi empregado na tentativa de resgatar os desaparecidos, um esforço nobre, necessário e válido. Por outro lado, fica claro que há uma nítida diferença na forma como as pessoas são tratadas: enquanto os refugiados são vistos como um problema, os curiosos com dinheiro são bem-vindos. Qual é o valor da vida? Essa é a questão fundamental.

Nossa sociedade vive uma confusão entre necessidade e curiosidade. No mistério da encarnação do Verbo Divino, Jesus não veio para fazer uma viagem de turismo entre nós; ele veio por vontade do Pai, para a nossa salvação. A necessidade não é dele, mas nossa. Somos nós que precisamos acolhê-lo para encontrar o verdadeiro sentido da vida. Ignorar a Cristo é ignorar o caminho, a verdade e a vida, e é perambular pelas coisas do mundo em busca de sentido. Sem Cristo, somos menos que refugiados, somos turistas sem rumo, incapazes de apreciar a beleza da vida e de encontrar sentido nela. Para encontrar Cristo, não é preciso subir aos céus nem descer aos abismos profundos; ele está próximo, caminha conosco.

Dom Devair Araújo da Fonseca
Bispo de Piracicaba

1 https://publications.iom.int/system/files/pdf/WMR-2022-ES_0.pdf
2 http://www.dadosefatos.turismo.gov.br/images/demanda/UNWTO_World_Turism_Barometer_2019_Edition.pdf

 

 

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