A Igreja Católica sempre se preocupou com os pobres para tirá-los dessa triste realidade. Nos últimos tempos, a “preocupação com os mais pobres no sentido de luta contra a pobreza está presente de modo muito especial nas duas encíclicas sobre o desenvolvimento: Populorum Progressio e Sollicitudo rei socialis. Mas também aparece na Octogesima adveniens: a sociedade moderna, com as suas profundas mudanças, criou as suas próprias vítimas, que são os novos pobres do nosso tempo (AO 15-16). A Doutrina Social da Igreja insiste na atenção e no serviço desinteressado aos mais pobres.
Não existe pobreza somente em termos econômicos. “Existem muitos outros atropelos à dignidade humana que devem ser igualmente denunciados, porque a justiça verdadeira implica reconhecimento global da dignidade dos direitos humanos (JM II, 1)” (p.163). “A nova forma de entender a justiça, que encontra a sua plenitude na solidariedade, tem a sua melhor legitimação em Deus em quem acreditamos e cujo reino de justiça e de paz estamos chamados a construir” (p.165). A Doutrina Social da Igreja (DSI) sempre mostrou que a paz é fruto da justiça. Uma anda ao lado da outra.
Até há pouco tempo o socialismo e o capitalismo disputaram o planeta. “Havia então duas maneiras de entender o homem e a sociedade, inclusive duas distintas concepções da política. O mundo estava dividido em dois blocos contrapostos, em confronto constante. Esta oposição marca a história da humanidade durante quase meio século, a partir do próprio final da II Guerra Mundial. A DSI também se debateu ao largo de um século diante desta alternativa dos dois sistemas” (p.167). O fracasso e queda do socialismo em muitos países produziu uma euforia liberal.
Nas encíclicas geralmente falta uma maior precisão terminológica e os termos socialismo, socialismo real, marxismo, marxismo-leninismo, comunismo e coletivismo são empregados como sinônimos não obstante existam vínculos profundos entre eles, mas “torna-se mais importante empregar os termos com o rigor devido” (p.174). “O termo mais adequado para designar esse sistema que se desmoronou em todo um conjunto de países é o de coletivismo: com ele alude-se a um complexo sistema de organização da sociedade que inclui estruturas sócio-econômicas e políticas” (p.174).
A encíclica Centesimus Annus emprega, vez ou outra e para designar este sistema, a palavra marxismo. “Mas o marxismo é mais e é menos que o coletivismo. É mais porque, enquanto sistema filosófico, é abraçado por muitas pessoas que se distanciam radicalmente do coletivismo e têm vindo a fazer uma dura crítica da interpretação que se faz dele a partir da práxis destes países. Mas também é menos, enquanto ideologia que inspira o coletivismo e poderia inspirar outros modelos concretos de organização social. O marxismo-leninismo é a versão do marxismo elaborada por Lenine” (p.174).
Na encíclica Centesimus Annus há diferentes interpretações para comunismo e para socialismo. Marx empregava o termo comunismo às vezes identificado como coletivismo para designar a última fase da revolução, que nunca foi alcançada nos países que aceitavam a denominação de comunistas. “O socialismo é um termo mais amplo (e por isso mais ambíguo também), que designa uma alternativa ao capitalismo, se bem que a evolução histórica o tenha levado a aproximar-se consideravelmente dele” (p.175). Seja qual for o regime político, a Igreja, para ser fiel a Jesus Cristo, sempre batalhará em favor do pobre.
Pe. Antônio Carlos D´Elboux
Pároco da Paróquia Sagrado Coração de Jesus
Saltinho
Referência:
CAMACHO, Ildefonso. Cristãos na Vida Pública. Coimbra, Gráfica de Coimbra, sem ano.