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A Doutrina Social nos leva optar preferencialmente pelos pobres

Publicado em 1 de junho de 2023 - 14:34:14

A encíclica Centesimus annus de João Paulo II “vê já na Rerum Novarum uma expressão da opção preferencial pelos pobres, sublinhando o que chama ‘um testemunho excelente de continuidade (CA 11ª). Ora bem, analisando a encíclica de Leão XIII há que reconhecer que essa continuidade é só admissível no sentido de uma profunda evolução. Rerum Novarum é, certamente, uma ‘encíclica sobre os pobres’ (ib), não só porque denuncia a miséria a que foi condenada a classe operária industrial, mas também porque exige mudanças radicais como resposta. No entanto, é uma reforma da sociedade pensada a partir de cima e dirigida a partir de cima [...]” (p.153).

Procurando fazer frente à questão da pobreza dos operários estão entre os instrumentos “uma preocupação do Estado em defender os interesses legítimos dos operários (RN 25), a garantia de um salário justo que faculte o acesso à propriedade (RN 32-33) e ainda a existência de associações que corrijam o isolamento e desamparo em que vivem as classes trabalhadoras (RN 34). Os trabalhadores são apresentados prioritariamente como os destinatários destas iniciativas, por isso se fala de ‘reforma a partir de cima’. Isto é claro especialmente no caso de associações, embora se admitam as formadas só por operários” (RN 34) (pp.154-155).

Para modificar a realidade, espera-se “que nasça uma nova sensibilidade social, em,meados do século XX. É então que a humanidade começa a ganhar consciência, de um modo novo, das diferenças que separam os povos. E fá-lo a partir de uma dupla constatação. Por um lado, percebe-se que os avanços técnicos e acumulação do capital produziram um crescimento econômico desconhecido até então e aceitavelmente sustentado; os recursos disponíveis para satisfazer as necessidades humanas aumentam cada ano, assim como o nível de bem-estar social. Por outro lado, contudo, este bem-estar está repartido com muita desigualdade” (p.155).

Medellin aplicou o Concílio às tradições particulares da América Latina. “Embora se tratasse de uma assembleia universal, tinha predominado nela o problema central com que se confrontavam as Igrejas dos países avançados do norte: o desafio do mundo secular à fé. A Igreja latino-americana dispunha-se a reativar o impulso do Concilio enfrentando o que para ela constituía o grande desafio: a pobreza crescente. Medellin privilegia este enfoque, que tinha encontrado muito menor eco no Concílio” (pp.156-157). Seu documento final reflete esta realidade com suas desigualdades e tensões existentes.

Entre as respostas que a Igreja latino-americana deu em Medellin “a pobreza ocupou um lugar central. A situação de injustiça social, que é fonte de tanta inteligência e miséria desumanas [...]. Em três linhas se deverá mover uma Igreja pobre: na denúncia da injustiça e do pecado que a gera, na vivência da pobreza espiritual como abertura ao Senhor e no compromisso diante da pobreza material” (p.157). Na Conferência de Puebla, “a Igreja latino-americana faz já da opção preferencial pelos pobres a primeira das suas opções pastorais” (p.158). O Documento de Puebla parte do compromisso de Jesus com os mais necessitados.

A evangelização nos leva a anunciar e a testemunhar o Reino de Deus, mas “não exclui a tarefa de uma mudança estrutural: “esta é como que uma sua consequência; mas não será plena se não for acompanhada de uma mudança de mentalidade. Neste contexto, a exigência evangélica de pobreza deve ser entendida como ‘solidariedade com o pobre e como recusa da situação em que vive a maioria do continente’ (nº 1156)” (p.159). A pobreza “do nosso tempo está longe de ser um fato natural e inevitável; é o produto de umas estruturas que a humanidade pode modificar desde que exista vontade para isso” (p.159).

Pe. Antônio Carlos D´Elboux
Pároco da Paróquia Sagrado Coração de Jesus
Saltinho – SP

Referência:

CAMACHO, Ildefonso. Cristãos na Vida Pública. Coimbra, Gráfica de Coimbra, sem ano.

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