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Perspectivas da Doutrina Social a partir do Concílio Vaticano II

Publicado em 25 de maio de 2023 - 17:03:02

Os sistemas econômicos também sofreram modificações no decorrer do tempo. “O capitalismo subordinou a pessoa humana (e especialmente a pessoa do trabalhador) aos interesses econômicos, subvertendo a prioridade do trabalho sobre o capital. O coletivismo reagiu contra esta injustiça real atuando contra o que supunha ser a sua causa: a propriedade privada dos meios de produção. Por isso a substituiu pela propriedade coletiva. Mas isso não o livrou de cair no mesmo erro: a submissão do trabalhador aos interesses da classe dirigente (neste caso representados pela burocracia do Partido)” (p.137).

Na encíclica Sollicitudo rei socialis os sistemas econômicos não “tem sido capaz de oferecer fórmulas que favoreçam um desenvolvimento verdadeiro e integral das pessoas e dos povos, e esta é a razão por que a Doutrina Social da Igreja os critica (SRS 215). Por sua vez o coletivismo é explicitamente criticado porque nega direitos fundamentais, como ‘o direito à liberdade religiosa, o direito a participar na construção da sociedade, a liberdade de se associar ou de formar sindicatos e de tomar iniciativas em matéria econômica’; tudo isto são exigências irrecusáveis de um desenvolvimento integral (SRS 15e)” (pp.137-138). 

A mencionada encíclica “denuncia o abismo escandaloso e cada vez maior entre superdesenvolvimento e subdesenvolvimento” (p.139), enquanto a encíclica Centesimus annus, do mesmo Papa João Paulo II,  “não crê que o capitalismo venha a ser capaz de resolver os grandes problemas que hoje subsistem no mundo depois da queda do coletivismo” (p.139). Não há na Doutrina Social da Igreja “um juízo genérico e intemporal sobre os sistemas econômicos. Encontramos antes nos seus documentos uma análise crítica sobre as formas históricas que ambos os sistemas vão adotando” (p.139). 

Para muitos católicos a sua fé não era incompatível com as novas ideias da época (os católicos liberais), mas não era a opinião dominante na Igreja. “Por isso, a ação foi a ausência do campo político e a busca de alternativas no campo da presença social. Esta orientação extra política encontra o seu melhor caminho no catolicismo social. Foram muitas as iniciativas dos católicos no terreno social, tentando sempre a criação de plataformas na ajuda dos mais desfavorecidos do seu tempo: a classe operária. Tais instrumentos serviam quer para cuidar das suas condições de trabalho quer para velar pela manutenção da sua religiosidade [...]” (p.141). 

Depois da queda do fascismo, todas as ideologias aprenderam que “a democracia é o único modelo capaz de organizar a convivência das sociedades, tanto a nível intra-estatal como mundial. Democracia como alternativa ao totalitarismo. A Doutrina Social da Igreja também faz sua esta conclusão, e o magistério de Pio XII é uma contínua demonstração desta tomada de postura. O termo ‘democracia’ deixa de ser entendido como governo do povo [...] agora é usado para sublinhar a necessidade de uma participação da sociedade que controle o poder público e evite os seus abusos” (pp.143-144).

Dentre o pluralismo de opções políticas, os católicos vão delimitar seu campo de ação. “A democracia cristã reaparece agora como uma opção política, mas ainda como uma opção política que busca a sua inspiração na tradição cristã. Nascida na Itália antes da II Guerra Mundial, e sem propriamente dispor do beneplácito da Santa Sé, renascerá depois do parêntesis fascista (tempo em que todos os partidos foram suprimidos) como uma via para fazer frente à ameaça comunista que desponta sobre a Europa. Por esta razão recebe neste momento um decidido apoio da Santa Sé” (p.144).

O Concílio Vaticano II provocou duas mudanças significativas na Igreja. “A primeira é afirmação da autonomia das realidades temporais, a que se reconhece a legitimidade de se regerem segundo as suas próprias leis. As ditas realidade não são autônomas relativamente a Deus e à ordem moral objetiva [...]. A segunda mudança é consequência da primeira: a função específica da Igreja na sociedade moderna deve ser revista, dado que o caráter plural desta não permite que a Igreja conserve aquele papel diretivo que a sociedade antiga lhe reconhecia” (p.145). 

Pe. Antônio Carlos D´Elboux
Pároco da Paróquia Sagrado Coração de Jesus
Saltinho – SP

Referência:
CAMACHO, Ildefonso. Cristãos na Vida Pública. Coimbra, Gráfica de Coimbra, sem ano.

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