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Primeiros tempos da Doutrina Social da Igreja

Publicado em 18 de maio de 2023 - 17:07:38

No século XIX “o socialismo é um movimento muito diversificado, com muitas correntes distintas, mas com um ponto em comum: a sua aversão à ordem social vigente e, especialmente. Ao sistema econômico (capitalista). Dentro desta diversidade de grupos e orientações não pode esquecer-se, ao menos nalgumas delas, uma certa inspiração cristã, embora se tenha que reconhecer subjacente a isso um pendor bastante clerical” (p.129). Já no primeiro ano de seu pontificado (1878), o Papa Leão XIII lançou a encíclica Quod apostolici muneris contra o socialismo, classificando-o como câncer mortal na sociedade.

Na encíclica Rerum Novarum de Leão XIII os socialistas são definidos por duas características: “abolição da propriedade privada e fomento da luta de classes”. Para Leão XII há ainda uma outra discrepância com o socialismo daquela época: “a sua concepção de sociedade. Leão XIII não aceitou as pretensões igualitárias do socialismo nem muito menos o recurso à luta de classe para avançar até uma sociedade sem desigualdades” (p.130). Nesta encíclica, há também uma confrontação com a mentalidade liberal nos problemas sociais e no papel da Igreja nessas questões.

Para enfrentar o liberalismo econômico da época, o Papa propõe três orientações: “a) Não basta afirmar e defender o direito natural à propriedade, é preciso além disso garantir um uso dos bens que não prejudique as classe trabalhadoras e possibilite inclusivamente o acesso à propriedade; b) O Estado não pode permanecer ausente da vida socio-econômica, tem que velar pelos direitos dos trabalhadores e intervir para garantir condições de trabalho e retribuição; c) Tão natural como o direito à propriedade é o direito de associação, que tornará possível aos trabalhadores defender os seus legítimos interesses” (p.131).

O Papa Pio XI na encíclica Quadragesimo anno reconhece que no socialismo moderado “se suavizaram muitas posturas radicais do socialismo primitivo e do comunismo. Tão pouco se ignora como muitas aspirações do socialismo são muito atrativas para o cristão. No entanto, e apesar de todas estas concessões, reafirmar-se a incompatibilidade desta forma de socialismo com a doutrina da Igreja. Duas razões justificam esta rejeição [...] a primeira, a negação da abertura do ser humano à transcendência; a segunda, a subordinação da pessoa humana aos interesses materiais do socialismo (QA 118-119)” (p.133).

Pio XI também condena o capitalismo, onde uns colocam o capital e outros o trabalho para o qual não se coloca em princípio nenhuma objeção “até tornar-se profundamente condenável pelos abusos do capital sobre o trabalho e o seu esquecimento sistemático da dignidade humana e do carácter social da economia (QA 101)” (p.134). Os poderes econômicos, “cada vez mais fortes, pugnam por impor o seu domínio em todos os âmbitos da atividade social e em todas as regiões do globo (QA 108)” (p.134). O Papa Pio XI propôs, sem êxito, o corporativismo como saída.

Com a queda do fascismo, o Papa Pio XII “manterá a postura de firme condenação do comunismo, que continua sendo a grande ameaça para a Europa. O Santo Ofício em 01 de Julho de 1949 estabeleceu medidas duras contra o comunismo: “a proibição de os católicos se filiarem em partidos comunistas ou de os favorecer; a proibição de editar, propagar ou ler publicações que patrocinassem a doutrina ou ação dos comunistas; a proibição de admitir nos sacramentos os católicos que incorressem nos atos atrás citados; a excomunhão ipso facto dos católicos que professassem ou propagassem a doutrina comunista” (p.135).

Pe. Antônio Carlos D´Elboux
Paróquia Sagrado Coração de Jesus
Saltinho – SP

Referência

CAMACHO, Ildefonso. Cristãos na Vida Pública. Coimbra, Gráfica de Coimbra, sem ano

 

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