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A Doutrina Social da Igreja depois do Vaticano II

Publicado em 20 de abril de 2023 - 16:08:23

A Doutrina Social da Igreja (DSI) nos pontificados dos Papas Paulo VI e João Paulo II pode-se “estruturar em torno dos dois grandes desafios [...] o desafio que vem do pluralismo e da secularização, e o que procede da pobreza e da marginalização, que funciona cada vez mais como fator discriminatório entre os povos” (p.99). O pluralismo da sociedade moderna “obriga a falar também de uma presença plural e diversificada dos crentes nela. São os leigos os que estão em melhores condições para assumir este compromisso efetivo, mas a sociedade moderna possui um alto grau de complexidade” (p.99).

O Papa Paulo VI “aceita com todas suas consequências o pluralismo da sociedade. Por isso anima as comunidades locais para que tomem a iniciativa nesse processo de discernimento que nem sempre se pode fazer a partir das instâncias centrais da Igreja” (p.100). Paulo VI “rejeita, como incompatíveis com a visão cristã do homem. As duas ideologias mais influentes no nosso tempo: o liberalismo e o marxismo” (Octogesima Adveniens 26) (p.102). Para Paulo VI “a vinculação do crente com estes movimentos há de ser real, mas não incondicional: consciente do seu fundo ideológico, deve manter uma distância crítica” (p.102).

João Paulo II, na encíclica Laborem exercens, retoma a preocupação de Paulo VI com a presença dos cristãos no mundo de hoje, mas completa-a com outra que reflete tanto a experiência eclesial dos últimos anos como a sua personalidade polaca: "assegurar a identidade dos cristãos e evitar a desagregação destes numa multiplicidade de projetos e grupos diferentes e até contrapostos” (p.103). João Paulo II “não rechaça taxativamente nenhum deles. O seu objetivo último consiste em mostrar a via pela qual há que buscar a superação da sua insuficiência radical” (pp.104-105). 

A Doutrina Social da Igreja “nasceu com os olhos postos no conflito industrial. O confronto de classes era a manifestação social do grande desenvolvimento econômico propiciado pela industrialização. Este conflito industrial derivará mais tarde para o confronto entre os dois grandes sistemas socioeconômicos: o capitalismo, causa do forte desenvolvimento industrial e também da penosa situação do proletariado, e o socialismo, que propõe uma alternativa radical à ordem consolidada pelo capitalismo” (p.105). A Doutrina Social da Igreja rejeita os dois grandes sistemas.

Paulo VI na encíclica Populorum Progressio tem “a intenção de concretizar a doutrina antes apontada na Gaudium et Spes, a encíclica apresenta-se diante da consciência da humanidade como uma chamada urgente à ação (PP 1). Mas nela tem um peso específico muito grande a denúncia dos mecanismos causadores da exploração dos povos mais atrasados; por isso se critica o sistema do comercio internacional, através do qual o terceiro mundo vê sem cessar incrementarem-se os preços que eles têm que pagar, enquanto que os que cobram se mantêm quase invariáveis quando não em baixa (PP 7; 8; 58)" (p.107).

A preocupação da Igreja “em inserir o compromisso com a justiça na vocação cristã, tem sido, durante as suas últimas décadas viva e polemica” (p.108). “Em vinte anos, não só se incrementaram as diferenças entre os povos; mais do que isso, perdeu-se a esperança” (SRS 14). “A análise desta realidade escandalosa que é o contraste entre hiperdesenvolvimento e subdesenvolvimento, leva a unir dois problemas que até agora se vinham considerando independentes: a polarização Leste-Oeste e o confronto Norte-Sul (SRS 20)". O subdesenvolvimento do Sul também é consequência do desenvolvimento do Norte.

Pe. Antônio Carlos D´Elboux
Pároco da Paróquia Sagrado Coração de Jesus
Saltinho – SP

Referência
CAMACHO, Ildefonso. Cristãos na Vida Pública. Coimbra, Gráfica de Coimbra, sem ano.

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