A sociologia é a ciência que estuda o comportamento humano e os processos que interligam os indivíduos, sejam processos culturais, econômicos ou religiosos. Alguns pontos importantes nesse estudo são: a estrutura social, os grupos sociais, a família, as classes sociais e os papéis que o indivíduo ocupa em sociedade. Ao apresentar a estrutura social aparecem as classes ou categorias sociais. Os pobres estão no final dessa classificação, sendo o grupo de menor ou nenhum poder aquisitivo, sem condições básicas de habitação, saúde, educação ou cultura. Os pobres acabam precisando da ajuda e socorro do Estado e de outras organizações não governamentais (ONG).
Uma fala muito repetida do Papa Francisco é que: “A Igreja não é uma ONG”. Então, o que é a Igreja? No sentido bíblico e patrístico, a Igreja é um acontecimento salvífico, sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade do gênero humano. A Igreja é vontade de Deus, que foi preparada na história do povo de Israel e foi fundada em Cristo, com a pregação da boa nova do Reino. Assim, a Igreja, corpo místico de Cristo, é formada de muitos membros e, quando um dos membros sofre, todos sofrem. Embora a divisão de classes, partindo da condição econômica, seja uma forma de explicar a pobreza, na Sagrada Escritura existe uma outra forma de entender quem é o pobre.
O anúncio do Evangelho parte da pregação e ação de Jesus Cristo, ele é o pobre por excelência. Sua pobreza não é a falta de bens materiais, porque Jesus morou em uma casa, da sua família. Seu pai tinha uma profissão remunerada para sustentar a família e como era costume, o pai ensinava o seu ofício ao filho. Em sua missão, Jesus e seus discípulos recebiam ajuda de amigos, como a hospedagem na casa de Lázaro ou senhoras que prestavam auxílio com seus bens, sem contar as visitas a casa de Zaqueu, Mateus e amizade com Nicodemos. Também as roupas de Jesus não deviam ser de baixa qualidade, afinal, os soldados quiseram dividi-las. A pobreza de Jesus é a sua liberdade.
O sentido messiânico da pobreza de Jesus é o cumprimento das profecias, ou seja, a sua total adesão ao projeto de Deus Pai. Nesse caminho, também estão presentes outros sinais de pobreza material, como a simplicidade que oculta a majestade, a perseguição política e o exílio, a rejeição social, a fome e a sede. Jesus foi pobre em sua vida e glorioso em sua morte. Ele foi pobre porque expressou sua solidariedade com os podres, a ponto de tomar sobre si os pecados do mundo. Tudo sem demagogia, sem enganar ou fazer promessas de retribuição. A solidariedade de Jesus com os pobres não é apenas no compromisso social, vai além, é a pobreza da obediência ao Evangelho da Salvação.
A partir da pobreza de Jesus, os pobres se tornam sacramento na dimensão do Evangelho. Quando se cuida ou se serve aos pobres, é de Cristo que estamos cuidando e servindo. O amor aos pobres é uma questão moral, pastoral e evangélica. Ajudar os pobres é mais que uma exigência sociológica, é obediência ao Evangelho, pois eles são irmãos de Cristo e em Cristo somos todos irmãos. O Evangelho requer de nós uma pobreza interior, de abertura à vontade de Deus e à novidade do Reino. Somente como “pobres” poderemos entender a realidade do outro. A renovação pastoral, exigência de uma nova pastoral urbana, passa por esse caminho missionário.
Dom Devair Araújo da Fonseca
Bispo de Piracicaba