A expressão “colocar uma pedra no assunto” é usada quando se quer encerrar uma discussão ou uma situação desagradável. Em questões familiares, às vezes, essa é a escolha mais acertada para deixar de lado as disputas, por exemplo, quando o assunto é política ou herança. No contexto administrativo e comercial existe outra expressão com sentido semelhante: “arquivo morto”. Documentos que não servem mais ou processos encerrados que são colocados em um armário ou sala e acabam ficando empoeirados e esquecidos. Se um dia for necessário, esses arquivos podem ser consultados, mas geralmente o destino deles é o esquecimento e o descarte.
O que os Sumos Sacerdotes e Mestres da Lei tentaram fazer com Jesus foi algo semelhante. A pergunta inicial é: Quem foi Jesus e o que ele fez? Jesus foi reconhecido com filho de um carpinteiro, que começou sua pregação na Galileia. Ele juntou um grupo de discípulos, aos quais deu o nome de apóstolos, que o acompanharam por um período de três anos até sua morte em Jerusalém. Jesus entrou em uma Sinagoga e afirmou que o dia do cumprimento da promessa tinha chegado, expulsou demônios, tocou e curou leprosos e aleijados. Visitou a região da Samaria, considerada impura e foi acolhido por uma mulher samaritana. Jesus curou em dia de sábado, desafiando os interpretes da Lei.
Quando foi a Jerusalém ele expulsou os comerciantes que transformaram o Templo em casa de comércio. Jesus desafiou os grupos religiosos dos saduceus e fariseus, que tinham interpretações da Lei que impunham cargas pesadas às pessoas, sem que eles mesmos fossem capazes de cumpri-las. Ele foi pobre, não apenas no sentido social, mas no sentido de ser livre para realizar a vontade e o projeto de Deus. Ele foi muito bem relacionado, tinha amizade com José de Arimateia, foi à casa de Zaqueu e Mateus. Pessoas de posse ajudaram Jesus e seus discípulos e ele próprio fez um milagre em favor do servo de um Centurião Romano. Por tudo isso, tentaram encerrar a questão de Jesus de Nazaré.
A prática de Jesus colocou em risco as interpretações da Lei e a autoridade dos Sumos Sacerdotes, por isso, tornou-se imperativo colocar uma pedra sobre o caso. A morte de Jesus foi projetada com ajuda de testemunhas falsas e paga com dinheiro do Templo. A ambição política de Pilatos e a manipulação da multidão foram usadas com esperteza e crueldade. Mas nada disso aconteceu sem conhecimento de Deus ou contra a Sua permissão. Jesus não foi preso político, não realizou passeatas nem ataques e destruição de propriedade privada ou pública, não promoveu revoltas e nem defendeu ideologias. Jesus foi “a pedra que os construtores rejeitaram”, foi morto e sepultado.
Mas a pedra que fechava o túmulo foi removida pela mão Deus e Cristo ressuscitou. Depois, o Senhor enviou seus discípulos em missão a todas as nações. Mas será que hoje não existem outras tentativas de silenciar a Palavra de Jesus? Nos chamados lugares santos, por exemplo, a liberdade religiosa não é garantida. Na Nicarágua foram proibidas as manifestações públicas da fé. Na Europa, símbolos cristãos já foram ou estão sendo retirados e em muitos lugares na Ásia e Oriente nem são permitidos. Por toda parte avança rapidamente uma mudança de pensamento que influencia a estrutura das línguas e revisões literárias já estão sendo feitas, como na Inglaterra. Será que em breve não seremos forçados a rever a Escritura?
A Verdade da Palavra de Deus foi considerada subversiva e incomoda pelos Mestres da Lei e pelos Sumos Sacerdotes do tempo de Jesus. Mas hoje essa mesma Verdade continua a incomodar, porque ela aponta os erros e enganos de uma humanidade distante de Deus. Há novos “mestres da lei e sumos sacerdotes” com disposição e recursos para recolocar a pedra no túmulo, na tentativa de encerrar o assunto “Jesus de Nazaré”. A vigilância é cada vez maior e mais atenta. Apesar da liberdade que ainda temos, aos poucos o controle avança. Fiquemos também atentos! Aos cristãos de hoje, cada vez mais, se impõem a exigência e a tarefa do testemunho da Verdade. Um testemunho de vida, sereno e pacífico, claro! De cordeiros como “O Cordeiro”. Sejamos, pois, cristãos conscientes de que Cristo vence o pecado e a morte, ontem, hoje e sempre. Ele é a Luz e a Salvação do mundo.
Dom Devair Araújo da Fonseca
Bispo de Piracicaba