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Ano Missionário (7): Cristãos, não consumidores

Publicado em 29 de março de 2023 - 15:37:48

O comércio é uma das mais antigas atividades humanas e que mudou muito ao longo do tempo. O meio mais antigo de comércio aconteceu na forma de troca, um produto era permutado por outro, segundo a necessidade de cada um. Com o surgimento da moeda, os produtos passaram a ter um valor e o comércio passou a ser uma atividade de compra e venda. Os locais para realizar as trocas ou a compra e venda também evoluíram. Primeiro, essas atividades foram realizadas em praças ou lugares de grande fluxo e depois evoluíram para espaços fechados, como as lojas e mercados de hoje. Mais recentemente, o comércio evoluiu com a possibilidade de compras on-line.   

Como a atividade comercial está baseada na necessidade das pessoas, por isso, a propaganda tornou-se uma atividade paralela, com o objetivo de facilitar o comércio. Daí a ditado popular: “A propaganda é a alma do negócio”. A propaganda busca os consumidores, criando neles a necessidade de um produto.  Os consumidores variam quanto a idade, gênero, poder aquisitivo ou classe social. Os locais de compra também variam, desde os mais populares até aqueles mais requintados, com grandes lojas, praças de alimentação e locais de entretenimento. Mas qual a relação entre a fé, o comércio, a propaganda e os consumidores?

O batismo é sacramento que nos faz filhos de Deus, pelo mistério da Paixão, morte e Ressurreição de Cristo. A partir do batismo começa o caminho da vida cristã, que se desenvolve na Igreja, com a vida em comunidade. Nesse caminho, a Igreja recebeu do próprio Cristo outros sacramentos, com os quais alimenta e fortalece os seus filhos. O sacramento da Confirmação, que estabelece o tempo da vida adulta e do testemunho da fé; a Eucaristia, fonte e ápice de toda a liturgia da Igreja; a Confissão, que restaura a vida espiritual, fragmentada pelo pecado; a Ordem e o Matrimônio, que estabelecem o estado de vida e missão; por fim, a Unção para o corpo e a vida espiritual dos enfermos.

A vida dos batizados gira em torno da comunidade e deve se expandir, como ondas, semelhante ao que acontece quando atiramos uma pedra num lago com as águas paradas e que formam ondas circulares, agitando as águas. A vida e o testemunho dos batizados devem gerar esse mesmo movimento para fora. Porém, algumas vezes acontece que os fiéis batizados se acomodam dentro da comunidade, continuam a alimentar-se dos sacramentos e sacramentais, mas sem produzir frutos para o mundo. Passam de discípulos a consumidores, sempre em busca de novos produtos e promoções, num verdadeiro mercado da fé.

O Ano Missionário não é um tempo de fazer propaganda e oferecer produtos a novos consumidores. Trata-se de um movimento de saída no qual os fiéis batizados, a partir da escuta da Palavra de Deus e da vida sacramental, saem para testemunhar a fé. A missão também deve provocar um movimento interno, onde cada comunidade precisa repensar o caminho que tem feito e se sabe acolher os que chegam. Os discípulos missionários não precisam carregar muitas coisas, mas devem levar a sua experiência pessoal de fé e anunciar aos homens e mulheres de hoje como é bom viver a vida nova em Cristo. O Ano Missionário é um tempo de encontro e reencontro com Cristo e com os outros.

Dom Devair Araújo da Fonseca
Bispo de Piracicaba

 

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