As ciências sociais se complementam com as ciências históricas. “Não existe problema social sobre o qual a história não lance a sua luz. Por vezes despreza-se a história porque se considera que é tarefa de arqueólogos, quase um luxo insustentável quando se torna premente a urgência de muitas situações dramáticas” (p.37). A Igreja também se serve disso na sua doutrina social e conta com pessoas competentes para assessorá-la. A Igreja não tem soluções concretas para os problemas vivenciados no dia-a-dia. “Neste sentido, há que aceitar que o compromisso pessoal deve chegar mais longe que o da Igreja como comunidade” (p.39).
O compromisso pessoal se desenvolve em nível profissional, social e político. “O compromisso profissional é o mais direto e imediato: refere-se à atividade que ocupa a maior parte do tempo de quase todos [...]. O compromisso social aponta para um âmbito mais amplo: o dos posicionamentos globais do grupo ou grupos em que cada um se encontra inserido. O compromisso político, que merece uma palavra à parte. Não vivemos no melhor momento no que toca ao apreço para com a atividade política. Nem dentro da Igreja, nem na sociedade em geral [...]. E é tanto mais necessário quanto maior é o seu desprestígio [...]” (p.39).
Outro destaque no mundo da doutrina social é o voluntariado social. “Caberia aqui dizer que é uma forma organizada de compromisso social. Na realidade, sempre existiram, na Igreja e fora dela, voluntários. Mas a relevância que está alcançando hoje esta instituição é uma boa mostra da necessidade de situar o compromisso social em condições adequadas” (p.40). “A Igreja através dos seus canais oficiais, aspira a tornar-se presente em todos os fóruns da opinião pública da nossa sociedade. E isso tem que o fazer suportando os custos de estar ao nível do discurso que aí se registra” (p.42).
Para que a palavra da Igreja tenha crédito ela precisa ter competência e rigor analítico, sem medo de participar do debate público. “Tudo isto nos leva a concluir que os documentos da doutrina social não estejam pensados em primeiro plano para os pôr nas mãos de toda a gente. É possível que tal afirmação surpreenda. Em todo o caso, obriga a avançar neste campo para se ponderar o seu alcance. Há quem chegue a propor, neste sentido, que se ofereça uma versão mais breve e popularizada, mesmo que oficial com os aspectos nucleares do texto” (p.42). Sabemos, porém, que os textos são preparados pela hierarquia, assessorada por especialistas.
Os valores centrais na Doutrina Social da Igreja (DSI) são participação e solidariedade, “dois valores que se arriscam de menos na sociedade do nosso tempo. A participação contrasta com a tendência, tão viva hoje, para cada um se retrair e encerrar no mundo particular dos seus interesses [...]. Educar na participação significa contribuir para revitalizar e rearticular a sociedade civil. A solidariedade foi definida de uma forma perfeita por João Paulo II como ‘a virtude que nos faz sentir a todos responsáveis por todos’ (SRS 42). É o complemento da participação, o que lhe dá o seu mais profundo sentido [...]” (p.47).
O futuro da Doutrina Social da Igreja depende do futuro das comunidades cristãs. Este é um dos grandes desafios com que se confronta a Igreja “porque não bastam aglomerações de fiéis que acorram em certas ocasiões a um espaço comum: necessitam-se comunidades autênticas, que celebrem, partilhem e sejam capazes de um discernimento a partir da fé. Sem elas, o compromisso cristão de transformar a realidade será uma tarefa individual e, consequentemente, empobrecida” (p.48). As comunidades eclesiais precisam ser abertas, pois ao contrário se tornarão guetos eclesiais.
Pe. Antônio Carlos D´Elboux
Pároco da Paróquia Sagrado Coração de Jesus
Saltinho – SP
Referência:
CAMACHO, Ildefonso. Cristãos na Vida Pública. Coimbra, Gráfica de Coimbra, sem ano.