O caminho para viver como discípulo de Cristo passa por, pelo menos, três pontos comuns, o encontro com o Senhor, o confronto com a Verdade e o testemunho de vida. Esse é o percurso de formação dos discípulos e está presente nos relatos do Evangelho. As ocasiões de encontro foram diferentes e também as pessoas ou mesmo o tempo para entender quem era Jesus e qual a finalidade do seu anúncio. O Evangelho expressa a paciência de Deus, mas exige uma resposta. A mulher Samaritana ouviu, teve a vida iluminada e testemunhou, tudo isso num curto espaço de tempo.
A Samaritana foi ao posso em busca de água, era por volta do meio dia e lá ela encontrou um homem com sede. Nenhum desses pontos parece extraordinário, uma mulher em busca de água e um homem com sede. Mas foi um encontro inesperado porque aquele homem era Jesus. O diálogo entre os dois partiu de algo comum, a sede. Jesus estava com sede e pediu água à Samaritana, a partir disso, numa conversa franca e direta, a Samaritana viu Jesus mostrar sua vida, seus pecados e enganos. A Samaritana não se sentiu constrangida ou humilhada, porque o encontro foi um ato da misericórdia de Deus.
A palavra de Jesus foi como uma espada de dois gumes e dividiu a vida da Samaritana em um antes e um depois daquele encontro. A Verdade da Palavra de Deus tem essa capacidade de iluminar e curar as feridas. Ao ouvir sobre a sua vida, a Samaritana deixou que suas dores fossem tocadas e curadas pelo amor de Deus. Ela pediu e recebeu uma água capaz de saciar a sua sede, por isso, quando voltou para a cidade, ela deixou para trás o cântaro que trazia. O confronto da própria vida com a Palavra de Deus é algo que todo discípulo precisa fazer e depois precisa deixar aquilo que não serve mais.
Quando chegou à cidade, a Samaritana anunciou a presença de Jesus e fez isso partindo da própria vida. As palavras dela estavam carregadas de amor e misericórdia de quem experimentou a compaixão de Deus. Ela não apenas anunciou a presença do Messias, ela falou como ele transformou a vida dela. A Samaritana foi uma discípula, foi uma catequista que deu início ao processo de transmissão da fé para as pessoas da cidade. Ela encontrou Jesus, acolheu sua Palavra e depois partiu em missão. Como resultado da catequese da Samaritana, muitos da cidade vieram até Jesus.
Os discípulos que acompanhavam Jesus também foram à cidade, mas a presença deles não apontou para Jesus. No processo de transmissão da fé, é fundamental compreender que toda ocasião é propícia para a evangelização. A vida daqueles que se encontram com Jesus se torna uma expressão vivencial do Evangelho, uma catequese existencial. A Samaritana saciou sua sede na fonte de água viva e deu de beber aos outros, apontando o caminho. A catequese dada pela Samaritana foi digna de credito por causa da sua experiência pessoal, assim também devem fazer os discípulos de hoje.
Dom Devair Araújo da Fonseca
Bispo de Piracicaba