A Doutrina Social da Igreja (DSI) é marcada pelo pluralismo moderno. O que entendemos por pluralismo? "Convém distinguir pelo menos dois aspectos deste pluralismo, que marca tão profundamente todas as sociedades contemporâneas. Cabe falar, em primeiro lugar, de pluralismo de interesses. Sempre existiu. A heterogeneidade social é intrínseca a toda a sociedade, por menos complexa que seja, mas a sociedade moderna, sobretudo a partir da industrialização e do desenvolvimento econômico, exacerbou este pluralismo, que se converte assim em foco permanente de conflito social" (p.29).
Existe um outro tipo de pluralismo: o pluralismo ideológico. "Consiste no fato de que na sociedade moderna coexistem diversas cosmovisões ou concepções do homem e da sociedade. Cada uma delas busca uma coerência entre os seus diferentes elementos, mas não pode ocultar que o que lhe dá o seu sentido último é um conjunto de valores estruturados segundo uma determinada hierarquia" (p.30). Existe uma conexão entre ambas formas de pluralismo e o "princípio de autoridade tem sido substituído por uma mescla de racionalidade inter-humana e de livre opção pessoal" (p.31).
Estas duas situações mencionadas e vivenciadas pelo Doutrina Social da Igreja não podem reduzir-se à racionalidade e a Igreja "não tem outro caminho senão aceitar as regras do jogo vigentes nesta sociedade. Isto é, tem que tornar-se presente num debate público, em que as suas propostas receberão o apoio que deriva dos argumentos que as apoiam e da autoridade moral (não pressuposta, mas conquistada) de que goza. Apesar de tudo, não poderá reduzir-se a isso. Terá ainda que interrogar-se sobre como pode explicitar a mensagem que quer comunicar (de acordo com a sua missão" (p.31).
A Doutrina Social da Igreja "tem que contar também com o pluralismo dentro da Igreja e traçar os limites do pluralismo legítimo no seu seio. Este é um tema espinhoso, sem dúvida. Mas iniludível. Porque uma Igreja que vive imersa no seio de uma sociedade pluralista não pode evitar que o pluralismo a invada a ela também. Pensar o contrário seria negar que os crentes são filhos de sua época. E no terreno da doutrina social este pluralismo não é senão o reflexo da multidão de cosmovisões que coexistem no nosso mundo" (p.32). Na Igreja dispomos de critérios e princípios, mas não encontramos nela respostas concretas a todos os problemas.
É claro que na opção concreta de um crente intervém a fé, "mas intervêm também outros fatores, supostamente legítimos, ainda que nunca assimiláveis à fé: o ambiente, a educação, a posição social, a percepção da realidade, etc. A consciência desta complexidade deve conduzir a um respeito profundo para com outras opções dentro da Igreja e ao convencimento de que não é lícito reivindicar em exclusivo o qualificativo de cristão para nenhuma opção particular" (p.33). Todo projeto social é compatível com a visão cristã da pessoa e da sociedade e pode levá-la a uma perda da identidade comum dos crentes.
Na vida é necessário o contato direto com o concreto e a "principal dificuldade em conseguir o interesse das pessoas pela doutrina social é o desconhecimento vital dos problemas. Acontece com frequência que determinados grupos eclesiais vivem de tal forma encerrados nos seus ambientes que chegam a absolutizar a sua própria experiência e se tornam incapazes de pensar que existem outros mundos diferentes. Sem sair do próprio mundo, sem entrar em contato com outros e partilhar os seus problemas a partir de dentro, é muito difícil interessar-se pela DSI" (p.35).
Pe. Antônio Carlos D’Elboux
Pároco da Paróquia Sagrado Coração de Jesus
Saltinho - SP
CAMACHO, Ildefonso. Cristãos na Vida Pública. Coimbra, Gráfica de Coimbra, sem ano.