No ato da criação de uma paróquia, se estabelece o seu território utilizando pontos geográficos como rios, córregos, limites territoriais com outras paróquias e municípios, além de ruas, avenidas, estradas ou rodovias. Essa delimitação estabelece uma vinculação jurídico-canônica entre os moradores do território e a paróquia, que vale para a celebração alguns sacramentos. Pastoralmente, a criação de uma paróquia considera a necessidade pastoral de atender melhor quem mora nesse território, aproximando a celebração dos sacramentos, o atendimento pessoal entre outras necessidades pastorais.
O modelo de divisão paroquial é milenar e deve continuar, porém, precisa ser ajustado ao contexto urbano. A cidade é uma aglomeração humana onde as pessoas vivem, trabalham, estudam e realizam seus projetos. A configuração da cidade é diversifica e estabelece diferentes relações entre as pessoas. Existem bairros mais urbanizados e aqueles com menos recursos, lugares mais bem assistidos com transporte, comércio, áreas de lazer, escolas e outros lugares mais carentes. Há bairros nobres, condomínios fechados, verticais ou horizontais e favelas, que são denominadas comunidades. A diversidade urbana é um desafio para a pastoral.
Quando uma paróquia é criada, consideram-se os limites e os pontos geográficos, mas as relações humanas se estabelecem por critérios mais afetivos. No contexto urbano as pessoas procuram a paróquia não apenas porque ela está geograficamente próxima, mas porque se sentem ligadas a ela de algum outro modo, por diferentes laços. Pode ser por causa do acolhimento numa necessidade, porque a família sempre participou naquela paróquia, apesar de te se mudado para longe, ou porque a pessoa foi ali batizada. O atrativo pode ser também o carisma do padre ou os trabalhos realizados na comunidade. O fato é que existe hoje na pastoral urbana a chamada “paróquia de coração” e essa existência não pode ser desconsiderada na organização pastoral.
Embora não seja possível anular as normas do Direito Canônico nem das Diretrizes Pastorais, na organização da pastoral urbana é preciso fazer adequações que levem em conta a “paróquia de coração” e as novas necessidades. Além disso, a pastoral urbana precisa responder aos desafios dos condomínios verticais e horizontais e, ainda mais, acompanhar e cuidar daquelas comunidades de extrema pobreza. Por isso, a Pastoral Urbana é uma mudança no modo de fazer pastoral na cidade, o que exige a conversão das nossas estruturas paroquiais. As estruturas precisam se adequar às necessidades do povo de Deus, nos horários de atendimento, nos tempos e modos de preparação para os sacramentos. Permanece a paróquia geográfica, mas se transformam as suas estruturas, ficando mais dinâmicas e com capacidade para acompanhar a mudança da cidade.
Dom Devair Araújo da Fonseca
Bispo de Piracicaba