Para compreendermos bem a Doutrina Social da Igreja (DSI), é bom esmiuçarmos os seus termos. Por "doutrina entendemos um corpo de princípios éticos, morais e teológicos, organizados de forma sistemática e coerente. Tal sistematização é fruto de um processo histórico de reflexão, inspirado na fé e garantido pelo magistério da Igreja, através do qual se conseguiu que esse corpo doutrinal chegue a possuir uma certa consistência e estabilidade" (CAMACHO, p.13). A DSI é considerada "simplesmente como um conjunto de documentos da hierarquia eclesiástica. Trata-se, portanto, de diretrizes da autoridade à comunidade crente" (p.14).
Para algumas pessoas ela serve "para os que se dedicam à pastoral social ou à pastoral operária, ou, mais recentemente, para os que adotam uma postura comprometida com o terceiro mundo ou se inscrevem nalgum voluntariado social" (p.15). O termo Doutrina Social da Igreja (DSI) suscita muitas interpretações. "Em ambiente eclesial é frequente que surja esta questão: como ensinar hoje a doutrina social da Igreja? As pessoas tornam a interessar-se pelo tema, mas os documentos são difíceis e pouco acessíveis e os livros escassos" (p.16). As grandes fontes da DSI são as encíclicas sociais.
Ao analisarmos o texto de uma encíclica "imediatamente se percebe no texto um eco dos problemas particulares do momento histórico em que foi redigido. O documento pretende, primeiramente, dar uma resposta a esses problemas, mais que oferecer uma doutrina de valor intemporal. É certo que se lança mão de princípios doutrinais, mas só na medida em que iluminam uma situação concreta. Mais ainda, na mesma formulação da doutrina observa-se o peso das ideias dominantes e as correntes de pensamento de cada época" (p.18). A encíclica tem princípios universais e aplicações submetidas ao momento histórico que se vive.
Quando alguém critica a DSI "sucede que se acerta no conteúdo da crítica, mas erra-se na atitude, porque se atua como quem fala de uma realidade que não lhe toca, como algo que é totalmente alheio. O amor à Igreja não exclui a consciência lúcida dos seus defeitos, mas matiza a atitude com que se faz a denúncia e se propõem soluções" (p.21). "Na realidade, cada encíclica vem a ser como que uma paragem no caminho, uma pausa para fazer um balanço. Mas este balanço não pode senão apoiar-se na percepção da realidade aferida pela experiência plural dos cristãos [...]" (p.23).
Deve-se deixar bem esclarecido "que a doutrina social é para todos, porque é um elemento constitutivo da vivência da fé. Também aqui há que invocar o Concílio Vaticano II e a sua eclesiologia. Os documentos conciliares fixam de forma muito clara dois pontos. Primeiro, que a Igreja só se entende a partir de sua missão, que consiste em ser testemunha de Deus diante do mundo e comunicar a este a mensagem de salvação da parte de Deus" (p.26). "Mas, em segundo lugar, o mesmo concílio sublinhou que esta missão evangelizadora deriva diretamente da vocação cristã, e não de nenhum mandato posterior" (p.27).
Camacho, em seu livro "Cristãos na Vida Pública", salienta que a "vivência da fé tem que assumir todas as dimensões do real, e ela não se esgota na relação direta de pessoa a pessoa, mas abarca também as estruturas sociais, como algo que transcende a dimensão pessoal, mas ao mesmo tempo a condiciona" (p.27).O autor parte do Papa Paulo VI na exortação apostólica Evangelii Nuntiandi dizendo que "não é possível comunicar o anúncio salvífico sem uma implicação de alguma maneira na promoção humana" (p.28). É uma volta à carta de Tiago que nos ensina que "a fé sem obras é morta" (Tg 2,26).
Pe. Antônio Carlos D’Elboux
Pároco da Paróquia Sagrado Coração de Jesus
Saltinho - SP
Referência
CAMACHO, Ildefonso. Crisidos na Vida Pública. Coimbra, Gráfica de Coimbra, sem ano.