Estamos iniciando mais uma Campanha da Fraternidade, que é uma expressão da doutrina social da Igreja. Ela é uma iniciativa de Dom Eugênio de Araújo Sales e começou na Quaresma de 1962, na Arquidiocese de Natal, na cidade de Nísia Floresta, manifestando solidariedade às pessoas carentes daquela cidade. No ano seguinte, 16 Dioceses do Nordeste aderiram ao projeto e realizaram a Campanha da Fraternidade. Em seguida, em 1964, foi assumida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e lançada em todo o território nacional.
A Campanha da Fraternidade é sempre realizada no período da Quaresma, como proposta de conversão pessoal e social na prática da fraternidade e na busca do bem comum, educando as pessoas para viverem no amor e praticarem a justiça, tendo um objetivo bem claro na aplicação dos recursos advindos da conversão pessoal de cada um de nós. Cada ano, a Igreja escolhe um tema de reflexão que se transforma em ação concreta de solidariedade, fazendo despertar esperança na vida de muitas pessoas. Vez ou outra ela se torna ecumênica com participação de várias Igrejas Cristas.
Em cada ano escolhendo temas que abordam situações sociais, econômicas e políticas que impactam na vida das pessoas, aplicando o binômio fé e vida, nem sempre tem unanimidade na vida das pessoas as escolhas dos nossos bispos. Devemos ter sempre presentes que nem o Senhor Jesus agradou a todos, mas transmitiu com firmeza seus ensinamentos. Os temas e os lemas das Campanhas da Fraternidade apelam para nossa mudança de vida, nossa conversão, mudando hábitos e costumes. Temas sobre questões ambientais, como ecologia, água, a Amazônia, vida no planeta e casa comum questionam a todos e a todas.
Neste ano, o tema da campanha é “Fraternidade e Fome” e o lema “Dai-lhes vós mesmos de comer”, tirado do Evangelho de São Mateus, capítulo 14, verso 16. A Campanha da Fraternidade deseja cuidar de quem tem fome. A pandemia da covid-19 colaborou para o crescente número daqueles que passam fome. Só no Brasil as pesquisas mostraram que temos mais de 33 milhões de famintos, frutos da indiferença e da desigualdade social. E o assunto da fome volta pela terceira vez para a Campanha da Fraternidade, sendo a primeira em 1975 com o lema “Repartir o pão”. E a segunda em 1985 com o lema “pão para quem tem fome”.
Em 1998, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em sua 36ª Assembleia Geral, criou o Fundo Nacional de Solidariedade, que fica com 40% dos recursos arrecadados, e o Fundo Diocesano de Solidariedade, que fica com 60% da arrecadação nas coletas motivadas e realizadas pelas paróquias e comunidades. Com estes gestos concretos os Católicos vão ao encontro de projetos para enfrentar a pobreza e a miséria nas dioceses e em nível nacional. Todos os anos são aprovados muitos projetos sociais, principalmente nas regiões mais pobres do nosso Brasil. O dinheiro da Campanha da Fraternidade vai ao encontro dos pobres e necessitados.
Um bispo amigo meu já falecido e que foi presidente da Comissão Pastoral da Terra e do Conselho Indigenista Missionário falou-me diversas vezes que o que nos salva é o bem que fazemos aos pobres. Com isso, se a nossa oração não for engajada e transformadora, vale muito pouco. É o próprio Jesus quem nos ensinou que tudo o que fizermos aos pequenos e miseráveis é a ele mesmo que fazemos. Por isso a preocupação da Igreja em propagar sua doutrina social, animando a todos seus membros para que o bem seja feito para aqueles que se encontram em situações de vulnerabilidade, como acontece na Campanha da Fraternidade.
Pe. Antônio Carlos D’Elboux
Pároco da Paróquia Sagrado Coração de Jesus
Saltinho - SP