O Concilio Vaticano II foi responsável por despertar o sentido do sacerdócio batismal e também por distinguir e definir a ação dos leigos. De fato, o capítulo quarto da Constituição Dogmática Lumen Gentium, sobre a Igreja, trata dos leigos e reconhece que eles, segundo seus modos próprios, contribuem com carismas e serviços diversos, cooperando na obra comum da evangelização. Claramente não deve haver concorrência ou disputas entre ministros ordenados e leigos, mas uma complementariedade na ação missionária e evangelizadora.
Os leigos estão inseridos nas diversas pastorais, serviços e movimentos. Essas realidades, por sua vez, compõe as estruturas paroquiais, isto é, estão presentes numa paróquia geograficamente definida. A paróquia é uma unidade composta por suas comunidades e uma diversidade de estruturas para facilitar a participação e a vivência da fé. Mas estas estruturas, paróquias, pastorais, serviços e movimentos não estão isentas da ação missionária, porque se fizessem isso se tornariam peças de museu. Na verdade, o enfraquecimento de algumas dessas estruturas está nitidamente ligado à perda da consciência missionária.
A paróquia é um espaço, geograficamente definido, onde vive uma porção do povo Deus. O espaço paroquial é diversificado, podendo ser mais residencial ou comercial, com mais ou menos recursos, ter presente em seu território universidades, indústrias, condomínios fechados ou comunidades em extrema pobreza. Ela pode estar localizada em área de movimentação turística ou de peregrinação de fiéis. Há paróquias mais urbanas e aquelas que englobam áreas rurais. A diversidade é grande e isso exige um conhecimento aprofundado do território, para se propor uma ação pastoral-missionária capaz de atender ao conjunto dos desafios. A fragilidade e o fracasso da ação pastoral paroquial começam com a ignorância da sua realidade territorial.
Sobres estas estruturas, paróquias, pastorais, serviços e movimentos, é necessário considerar duas questões que se tornam obstáculos para uma ação pastoral-missionária. A primeira é a rigidez das estruturas e a segunda é o fechamento das lideranças e dos membros das pastorais. Para o funcionamento da paróquia é claro que existe uma legislação que precisa ser obedecida, seja ela civil, trabalhista, canônica ou partindo das diretrizes pastorais. Mas no atendimento pastoral podem surgir dificuldades, especialmente com relação às normas canônicas e às diretrizes pastorais. É nesse momento que se torna necessário acolher e discernir para agir com caridade. Usando de uma imagem, podemos dizer que não serve instalar uma rampa de aceso ou uma escada, se não existe a acolhida da pessoa. A estrita observância da norma pode desconsiderar a pessoa.
As pastorais, serviços e movimentos são realidades que integram a paróquia, embora tenham características próprias, elas precisam estar inseridas na ação pastoral-missionária da paróquia. Algumas dessas realidades, como a Pastoral da Criança, RCC (Renovação Carismática Católica) ou ECC (Encontro de Casais com Cristo), têm suas linhas de ação, orientações específicas e até uma organização própria e, quanto a isso, não há problema. Outras pastorais, como a Liturgia ou a Catequese, fazem parte da organização interna da paróquia e acabam assumindo características próprias do lugar onde estão, também sobre isso, não há problema. A dificuldade da ação pastoral-missionária com essas realidades começa quando elas se fecham em si mesmas, sem a capacidade de integração com as outras realidades, tornando-se pastorais, serviços e movimentos de repetição, sem discernimento e capacidade para enfrentar os novos desafios.
Sem uma adequada mudança das estruturas, não pode haver uma renovação da ação pastoral-missionária da Igreja. Mas sem uma autêntica conversão pessoal de ministros ordenados e leigos, não é possível chegar à mudança das estruturas. Isso acontece porque as estruturas refletem o pensamento e as atitudes dos ministros ordenados e dos leigos, daqueles que conduzem e levam adiante o trabalho pastoral. Quanto mais alguém está convicto da sua vocação, da presença do amor e da misericórdia de Deus em sua vida, tanto mais testemunha com alegria o Evangelho, e o contrário também é verdadeiro.
Dom Devair Araújo da Fonseca
Bispo da Diocese de Piracicaba