Em sua encíclica Fratelli Tutti, o Papa Francisco cita textos da encíclica Caritas in Veritate, do Papa Bento XVI. “Como pessoas que creem, pensamos que, sem uma abertura ao Pai de todos, não pode haver razões sólidas e estáveis para o apelo à fraternidade. Estamos convencidos de que ‘só com esta consciência de filhos que não são órfãos, podemos viver em paz entre nós’. Com efeito, ‘a razão, por si só, é capaz de ver a igualdade entre os homens e estabelecer uma convivência cívica entre eles, mas não consegue fundar a fraternidade" (CV, 19), (nº 272).
O Papa afirma que aprendemos com “nossas inúmeras fraqueza e quedas, como pessoas que creem pertencentes a diversas religiões, sabemos que tornar Deus presente é um bem para as nossas sociedades. Buscar a Deus com coração sincero, desde que não o ofusquemos com os nossos interesses ideológicos ou instrumentais, ajuda a reconhecer-nos como companheiros de estrada, verdadeiramente irmãos. Julgamos que, ‘quando se pretende, em nome de uma ideologia, excluir Deus da sociedade, acaba-se adorando ídolos, e bem depressa o próprio homem se sente perdido, a sua dignidade é pisoteada, os seus direitos violados’” (nº 275).
A encíclica traz citação do documento conciliar Nostra Aetate sobre as religiões não cristãs dizendo que a: “Igreja valoriza a ação de Deus nas outras religiões e ‘nada rejeita do que há de verdadeiro e santo nessas religiões. Considera com sincero respeito seus modos de agir e de viver, seus preceitos e suas doutrinas que [...] refletem, todavia, raios daquela verdade que ilumina todos os homens’ (Nostra Aetate, 2). Fratelli Tutti apela que como “cristãos, pedimos que, nos países onde somos minoria, nos seja garantida a liberdade, tal como nós a favorecemos para aqueles que não são cristãos onde eles são minoria” (nº 280).
Papa Francisco diz que é “urgente continuar a dar testemunho de um caminho de encontro entre as várias confissões cristãs. Não podemos esquecer o desejo expresso por Jesus: ‘Que todos sejam um” (Jo 17,21). Ao escutar o seu convite, reconhecermos com tristeza que, no processo de globalização, falta ainda a contribuição profética e espiritual da unidade entre todos os cristãos” (n1280). “Entre as religiões, é possível um caminho de paz. O ponto de partida deve ser o olhar de Deus. Porque, ‘Deus não olha com os olhos, Deus olha com o coração. E o amor de Deus é o mesmo para cada pessoas, seja qual for a religião” (nº 281).
O Papa também condena o terrorismo que chama de execrável “ameaça à segurança das pessoas, tanto no Oriente como no Ocidente, tanto no Norte como no Sul, espalhando pânico, terror e pessimismo não se deve à religião – embora os terroristas a instrumentalizem --, mas tem origem em interpretações erradas dos textos religiosos, nas políticas de fome, de pobreza, de injustiça, de opressão, de arrogância; por isso, é necessário deixar de apoiar os movimentos terroristas através do fornecimento de dinheiro, de armas, de planos ou justificações e também da cobertura midiática, e considerar tudo isso como crimes internacionais [...]” (nº 283).
Fratelli Tutti confirma que às vezes “a violência fundamentalista desencadeia-se em alguns grupos de qualquer religião pela imprudência dos seus líderes. Mas ‘o mandamento da paz está inscrito nas profundezas das tradições religiosas que nós representamos [...]. Nós, líderes religiosos, somos chamados ser verdadeiros ‘dialogantes’, a agir na construção da paz e não como intermediários, mas como mediadores autênticos. Os intermediários procuram conten tar todas as partes, com a finalidade de obter um lucro para si mesmos. O mediador nada reserva para si, mas se dedica generosamente, até se consumir [...]” (nº 284).
Pe. Antônio Carlos D´Elboux
Pároco da Paróquia Sagrado Coração de Jesus
Saltinho - SP
REFERÊNCIA
FRANCISCO, Papa. Fratelli Tutti. Carta encíclica sobre a fraternidade e a amizade social. São Paulo: Paulus, 2020.