A missão não é apenas uma ação de proselitismo ou uma ação pontual e programada da Igreja, realizada num tempo e lugar. A missão faz parte da natureza da Igreja, porque ela é consequência do mistério da encarnação e do mandato de Cristo. Quando Jesus assumiu a natureza humana, ele tomou sobre si a nossa fragilidade. Saindo de junto do Pai, Jesus veio para nos readmitir na comunhão de vida com Deus. Por isso, quando encerrou seu tempo, Jesus enviou o Espírito para que a missão continuasse com os Apóstolos e com a Igreja.
A força missionária impregnou de tal forma a consciência eclesial que, durante séculos, surgiram homens e mulheres que fundaram institutos ou congregações com carisma missionário. Há um grande número de santos e santas que foram missionários em terras estrangeiras ou nas suas realidades locais. O Concílio Vaticano II buscou reavivar esse espírito missionário na Igreja, partindo da necessidade de renovar o diálogo com o homem de hoje. A missão precisa avançar, encontrar novos caminhos para evangelizar, partilhando as alegrias e as dores do homem de hoje e tendo em vista os grandes desafios da atualidade. Neste ponto, precisamos fazer uma distinção entre os dois formatos da missão.
O primeiro formato da missão é aquele que aparece como uma difusão da fé, isto é, a missão ad gentes, aquela em que o missionário sai do seu lugar geográfico e vai a outros lugares. Muitas ordens religiosas foram fundadas exatamente para cumprir esse papel. Temos ainda exemplos de santos como São Paulo ou São Francisco Xavier, que saíram para terras distantes e evangelizaram os gentios ou pagãos. Esse formato de missão não está esgotado, pois ainda que o Evangelho já tenha chegado a todos os continentes, ainda existem espaços e lugares para a sua pregação e o anúncio do Reino.
O outro formato da missão é aquele que acontece num lugar que já foi evangelizado, onde já está presente a Igreja. Nesse caso, a missão se destina a uma revitalização da fé dos batizados e a busca daqueles que no momento estão afastados. Na missão local, é importante o despertar da consciência missionária dos ministros ordenados e dos leigos diretamente envolvidos na ação e nos serviços pastorais, para que através do seu testemunho e do seu compromisso brilhe a beleza e a alegria do Evangelho.
Os dois formatos não são opostos, mas complementares. Uma comunidade que recebeu a graça do Evangelho e não gera missionários para levar aos outros a Palavra de Deus, é estéril. De outro lado, uma comunidade que não se ocupa nem se preocupa em cuidar dos seus membros, das suas necessidades, das suas dores e feridas, é uma comunidade doente e que caminha para a morte. A ação missionária ad gentes, para fora, não dispensa a missão local, ao contrário, exige esse trabalho. Por isso, é importante refletir se nossas comunidades são vivas e fecundas ou se estão se tornado estruturas envelhecidas e vazias.
Dom Devair Araújo da Fonseca
Bispo da Diocese de Piracicaba