Estaremos vivendo o tempo quaresmal a partir da quarta-feira de cinzas no dia 22 de fevereiro. Por que falar em dízimo se o assunto principal deveria ser a Quaresma e seu sentido penitencial e preparatório para a Páscoa? Porque o dízimo tem uma dimensão sacrifical, na medida em que nos educa a separar a parte que é de Deus em função do próximo, num ato cristão de despojamento e partilha, algo somente possível para quem é liberto da tendência egoística na qual jaz toda a natureza humana.
Neste período de Quaresma, Jesus nos convida a fazer uma reflexão mais profunda sobre nossas atitudes como cristãos. Será que estamos cumprindo o quinto mandamento da Igreja e contribuindo com o dízimo para o fortalecimento dessa mesma Igreja de Jesus, realizando, assim, a nossa missão evangelizadora?
Encontramos a dimensão sacrifical em muitas outras realidades da Igreja, e o tempo quaresmal ressalta as práticas do jejum, da oração e da esmola como formas de penitência, mas o verdadeiro sentido do dízimo só pode ser alcançado quando contempla estas realidades.
O Jejum nos ajuda a refletir sobre o alimento que temos por bondade de Deus e não valorizamos, mas desperdiçamos e não partilhamos. Jesus disse que o verdadeiro jejum é fazer a vontade do Pai: contribuir com o dízimo só tem valor autêntico quando o dizimista o entrega procurando corresponder ao chamado a uma generosa solidariedade cristã.
A Oração é a maneira sublime de nosso diálogo com Deus. O dízimo como expressão da nossa fé, se não for visto em uma dimensão de relacionamento e gratidão a Deus, de quem tudo recebemos, será um ato vazio e sem sentido.
A Esmola é o ato de misericórdia que se presta ao irmão necessitado. Se o dízimo não contemplar a dimensão social visando a caridade fraterna que atende aos irmãos carentes de recursos na comunidade então será também um dízimo sem raízes na caridade.
A Quaresma é um período rico de reflexões que devem nos levar a uma consciência de nossos atos e a Campanha da Fraternidade 2023 propõe refletir o tema da fome a partir da perspectiva cristã, entendendo, sobretudo, que não existe fé sem obras e que qualquer discurso religioso sem uma prática de vida coerente torna-se estéril e vazio.
O dízimo em nossa reflexão quaresmal deve ser abordado para que sejamos dizimistas conscientes sobre a nossa corresponsabilidade fraterna na comunidade, na família, na sociedade, principalmente no socorro aos famintos, um dos grandes ensinamentos de Jesus Cristo e sua opção preferencial pelos pobres.
Iluminados pelo Espírito Santo, saibamos refletir reta e piedosamente sobre os mistérios da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo neste tempo forte da Quaresma e que possamos viver a experiência de Jesus, tanto na dimensão religiosa, quanto na eclesial, social e na missionária, que o dizimista fiel e atuante experimenta em sua vida cristã.
Pe. Celso de Jesus Ribeiro
Coordenador Diocesano da Pastoral do Dízimo