Na sua encíclíca Fratelli Tutti, o Papa Francisco nos mostra que, quando “os conflitos não se resolvem, mas se escondem ou são enterrados no passado, surgem silêncios que podem significar tornar-se cúmplice de graves erros e pecados. A verdadeira reconciliação não escapa do conflito, mas alcança-se dentro do conflito, superando-se através do diálogo e de negociações transparentes, sinceras e pacientes” (nº 244). Para o Papa, a “reconciliação é um fato pessoal, e ninguém pode impô-lo ao conjunto de uma sociedade, embora a deva promover” (nº 246). O que nunca se deve propor é o esquecimento das injustiças e das feridas.
O Papa Francisco ensina que o “perdão não significa esquecimento. Antes, mesmo que haja algo que de forma alguma pode ser negado, relativizado ou dissimulado, todavia podemos perdoar. Mesmo que haja algo que jamais deve ser tolerado, justificado ou desculpado, todavia podemos perdoar. Mesmo quando houver algo que, por nenhum motivo, devemos permitir-nos esquecer, todavia podemos perdoar. O perdão livre e sincero é uma grandeza que reflete a imensidão do perdão divino. Se o perdão é gratuito, então pode-se perdoar até a quem tem dificuldade de se arrepender e é incapaz de pedir perdão” (nº 250).
Fratelli Tutti defende que há “duas situações extremas que podem chegar a apresentar-se como soluções em circunstâncias particularmente dramáticas, sem se dar conta de que são respostas falsas, não resolvem os problemas que pretendem superar e, em última análise, nada mais fazem do que acrescentar novos fatores de destruição ao tecido da sociedade nacional e mundial. Trata-se da guerra e da pena de morte” (nº 255). E ela afirma que toda “guerra deixa o mundo pior do que o encontrou. A guerra é um fracasso da política e da humanidade. Uma rendição vergonhosa, uma derrota diante das forças do mal” (nº 261).
A encíclica repete a mensagem do Papa Francisco à Conferência da ONU, em 28 de março de 2017, para criar um instrumento juridicamente vinculante sobre a proibição das armas nucleares: “A crescente interdependência e a globalização significam que a resposta que se der à ameaça de armas nucleares deve ser coletiva e planejada, baseada na confiança recíproca, que só pode ser construída através do diálogo sinceramente dirigido para o bem comum e não para a tutela de interesses velados ou particulares” e cita o Papa Paulo VI que propôs usar o dinheiro das armas e despesas militares para acabar com a fome no mundo (nº 262).
O Papa afirma que há “outra maneira de eliminar o outro, não destinada aos países, mas às pessoas: é a pena de morte. São João Paulo II declarou, de forma clara e firme, que ela é inadequada no plano moral e não é mais necessária no plano penal (EV, n. 56). Não é possível pensar em recuar a essa posição. Hoje, afirmamos com clareza que “ a pena de morte é inadmissível” e a Igreja compromete-se decididamente a propor que seja abolida em todo o mundo” (nº 263). Os argumentos contrários à pena de morte são muitos e conhecidos, ‘como a possibilidade da existência de erro judicial e o uso que dela fazem os regimes totalitários e ditatoriais” (nº 268).
A encíclica é categórica em dizer que “todos os cristãos e homens de boa vontade são chamados hoje a lutar não só pela abolição da pena de morte, legal ou ilegal, em todas as suas formas, mas também para melhorar as condições carcerárias, em respeito à dignidade humana das pessoas privadas da liberdade. E relaciona isso com a prisão perpétua. [...] A prisão perpétua é uma pena de morte escondida” (nº 268). As várias religiões contribuem “para a construção da fraternidade e a defesa da justiça na sociedade. O diálogo entre pessoas de diferentes religiões não se faz apenas por diplomacia, amabilidade ou tolerância” (nº 271).
Pe. Antônio Carlos D´Elboux
Pároco nomeado da Paróquia Sagrado Coração de Jesus
Saltinho - SP
REFERÊNCIA
FRANCISCO, Papa. Fratelli Tutti. Carta encíclica sobre a fraternidade e a amizade social. São Paulo: Paulus, 2020.