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Encíclica Fratelli Tutti – décima primeira parte

Publicado em 26 de janeiro de 2023 - 14:16:21

A encíclica Fratelli Tutti ensina que se “devemos respeitar a dignidade dos outros em qualquer situação, significa que essa dignidade não é uma invenção nem uma suposição nossa, mas que existe realmente neles um valor superior às coisas materiais e independetes das circunstâncias, o que exige um tratamento distinto. Que todo ser humano possui uma dignidade inalienável é uma verdade que corresponde à natureza humana, independentemente de qualquer transformação cultural. Por isso, o ser humano possui a mesma dignidade inviolável em todo e qualquer período da história [...] (nº 213).

Papa Francisco esclarece que “a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro na vida. Já várias vezes convidei a desenvolver uma cultura do encontro que supere as dialéticas que colocam um contra o outro. É um estilo de vida que tende a formar aquele poliedro que tem muitas fáceis, muitos lados, mas todos compõem uma unidade rica de matizes, porque o ‘todo é superior à parte’ (Evangelii Gaudium, n. 237). O poliedro representa uma sociedade em que as diferenças convivem integrando-se, enriquecendo-se e iluminando-se reciprocamente, embora isso envolva discussões e desconfianças” (nº 215).

Fratelli Tutti adverte que a “palavra ‘cultura’ indica algo que penetrou no povo, nas suas convicções mais profundas e no seu estilo de vida. Quando falamos de uma ‘cultura’ no povo, trata-se de algo mais que uma ideia ou uma abstração; inclui as aspirações, o entusiasmo e, em última análise, um modo de viver que caracteriza aquele grupo humano.Assim, falar de ‘cultura do encontro’ significa que, como povo, somos apaixonados por querer encontrar-nos, procurar pontos de contato, construir pontes, planejar algo que envolva a todos. Isso tornou-se uma aspiração e um estilo de vida. O sujeito dessa cultura é o povo [...]” (nº 216).

O Papa diz que “paz social é laboriosa, artesanal. Seria mais fácil conter as liberdades e as diferenças com um pouco de astúcia e algumas compensações, mas essa paz seria superficial e frágil, não o fruto de uma cultura do encontro que a sustenta. Integrar as realidades diferentes é muito mais difícil e lento, embora seja a garantia de uma paz real e sólida. Isso não se consegue agrupando só os puros, porque ‘até mesmo as pessoas que possam ser criticadas pelos seus erros têm algo a oferecer que não se deve perder’ (Evangelii Gaudium, n. 236) [...] O que conta é gerar processos de encontro [...]” (nº 217).

O Santo Padre afirma que um “efetivo encontro social coloca em verdadeiro diálogo as grandes formas culturais que representam a maioria da população. Muitas vezes, as boas propostas não são assumidas pelos setores mais pobres, porque se apresentam com uma roupagem cultural que não é a deles e com a qual não se identificam. Por consequinte, um pacto social realista e inclusivo deve ser também um ‘pacto cultural’, que respeite e assuma as diversas visões de mundo, as culturas e os estilos de vida que coexistem na sociedade (nº 219). O desprezo e a intolerância para com as culturas populares são formas de violência. (nº 219).

A encíclica reforça que ninguém “será capaz de possuir toda a verdade nem satisfazer a totalidade dos seus desejos, porque tal pretensão levaria a querer destruir o outro, negando seus direitos. A busca de uma falsa tolerância deve dar lugar ao realismo dialogante por parte de quem pensa que deve ser fiel aos seus princípios, mas reconhendo que o outro também tem o direito de procurar ser fiel aos dele. É o autêntico reconhecimento dos outros, que só o amor torna possível e que significa colocar-se no lugar do outro para descobrir o que há de autêntico ou pelo menos de compreensível no meio das suas motivações e interesses (nº 221).

Pe. Antônio Carlos D´Elboux
Pároco da Paróquia Imaculado Coração de Maria
Rio Claro

REFERÊNCIA
FRANCISCO, Papa. Fratelli Tutti. Carta encíclica sobre a fraternidade e a amizade social. São Paulo: Paulus, 2020.

 

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