Na encíclica Fratelli Tutti o Papa Francisco afirma que a “caridade está no centro de toda vida social sadia e aberta” (nº 184). O Papa cita a encíclica Caritas in Veritate, de Bento XVI, dizendo: “não é difícil ouvir declarar sua irrelevância para interpretar e orientar as responsabilidades morais” (nº 2). Francisco continua recordando a encíclica de Bento XVI falando sobre a caridade: “é muito mais do que um sentimentalismo subjetivo, quando, naturalmente, aparece unida ao compromisso com a verdade, para que não acabe prisioneira das emoções e opiniões contingentes dos indivíduos” (nº 3).
A Fratelli Tutti salienta o papel da política na prática da caridade: “É caridade acompanhar uma pessoa que sofre, mas é caridade também tudo o que se realiza – mesmo sem ter contato direto com essa pessoa – para modificar as condições sociais que provocam o seu sofrimento. Alguém ajuda um idoso a atravessar um rio e isso é caridade primorosa; mas se o político lhe constrói uma ponte, isso também é caridade. É caridade se alguém ajuda outra pessoa fornecendo-lhe comida, mas se o político lhe cria um emprego, exerce uma forma sublime de caridade, que enobrece a sua ação política” (nº 186).
A caridade, na visão do Papa, mostra o verdadeiro lugar da política. Ele recorre a texto do Papa João Paulo II: “Essa caridade, coração do espírito da política, é sempre um amor preferencial pelos menos favorecidos, que subjaz a todas as ações realizadas em seu favor” (Sollicitudo Rei Socialis, nº 42; cf. Centesimus Annus, nº 11). “Só com um olhar cujo horizonte esteja transformando pela caridade, levando à percepção da dignidade do outro, é que os pobres são reconhecidos e apreciados na sua dignidade imensa, respeitados no seu estilo próprio e cultura em, por conseguinte, verdadeiramente integrado na sociedade” (nº 187).
O Papa fala sobre o problema preocupante da fome: “Ainda estamos longe de uma globalização dos direitos humanos mais essenciais. Por isso, a política mundial não pode deixar de colocar entre seus objetivos principais e irrenunciáveis o de eliminar efetivamente a fome. Com efeito, “quando a especulação financeira condiciona o preço dos alimentos, tratando-os como uma mercadoria qualquer, milhões de pessoas sofrem e morrem de fome. Por outro lado, descartam-se toneladas de alimentos. Isto constitui um verdadeiro escândalo. A fome é criminosa, a alimentação é um direito inalienável” (nº 189).
Sobre a caridade política o Papa Francisco escreve que “o governo é chamado a renúncias que tornem possíveis o encontro, procurando a convergência pelo menos em alguns temas. Saber escutar o ponto de vista do outro, facilitando um espaço a todos. Com renúncias e paciência, um governante pode ajudar a criar uma realidade poliédrica em que todos encontram um lugar. Nisso, não resultam as negociações de tipo econômico; é algo mais: é um intercâmbio de dons a favor do bem comum. Parece uma utopia ingênua, mas não podemos renunciar a esse sublime objetivo” (nº 190).
A encíclica, lançada em Assis no dia 03 de outubro de 2020, ainda diz que: “quando determinada política semeia o ódio e o medo em relação a outras nações em nome do bem do próprio país, é necessário estar alerta, reagir a tempo e corrigir imediatamente o rumo” (nº 192). Papa Francisco afirmar categoricamente: “se consigo ajudar uma só pessoa a viver melhor, isso já justifica o dom da minha vida” (nº 195). E ele continua: “é de grande nobreza ser capaz de desencadear processos cujo frutos serão colhidos por outros, com a esperança colocada na força secreta do bem que se semeia” (nº 196).
Pe. Antônio Carlos D´Elboux – acdelboux@uol.com.br
Pároco da Paróquia Imaculado Coração de Maria
Rio Claro
REFERÊNCIA
FRANCISCO, Papa. Fratelli Tutti. Carta encíclica sobre a fraternidade e a amizade social. São Paulo: Paulus, 2020.