No início de seu pontificado, em 2013, o Papa Francisco faz uma afirmação que tem levado a muitos questionamentos e reflexões. Em um discurso, no dia 06 de agosto daquele ano, ele disse que a Igreja não é uma organização assistencial, uma empresa ou uma ONG, mas "uma comunidade de pessoas encorajadas pela ação do Espírito Santo, que viveram e vivem a maravilha do encontro com Jesus Cristo e desejam compartilhar esta experiência de profunda alegria". A afirmação do Papa toca diretamente a natureza e a finalidade da Igreja, além de indicar o caminho de como ela deve agir para realizar sua finalidade.
A Igreja existe para garantir que o Evangelho seja anunciado com fidelidade e que os discípulos de Jesus, movidos pela escuta da Palavra e pelo Espírito, testemunhem a fé no Ressuscitado, por meio das obras. Desta forma, toda ação da Igreja se direciona para a pastoral, isto é, cumprir o mandato e o envio missionário do Senhor. Se por natureza a Igreja é missionária, sua finalidade não é outra a não ser evangelizar e é isso que a diferencia de qualquer outro tipo de organização humana. Esta é a Igreja que “foi admiravelmente preparada na história do povo de Israel”.
Pela sua universalidade, a Igreja está presente nas mais diversas e diferentes situações, sejam geográficas, sociais ou culturais. Exatamente por isso a sua atuação pastoral também é diversificada. Junto aos mais pobres, a Igreja é socorro e auxílio; para os doentes ela é conforto e cura da alma; com os prisioneiros, ela é visita solidária; para os que ingressam no caminho da fé, ele é mestra; para os pecadores a Igreja é caminho de perdão e para todo o mundo ela é farol que faz brilhar a Verdade que liberta o homem. Além disso, a Igreja acompanha o trabalho e o esforço humano com diferentes iniciativas pastorais, segundo o tempo e a necessidade.
Como Corpo de Cristo que é a Igreja, ela também é um organismo que precisa ser administrado com prudência, justiça e fidelidade. Ao passar pelo templo, Jesus viu uma viúva que depositou no tesouro tudo o que possuía, duas moedas, aparentemente sem valor. Aquilo que é aparente para os homens, é diferente para Deus. As “duas moedas da viúva”, ajudam na obra da evangelização tanto quanto as ofertas maiores e por isso precisam ser devidamente administradas. Uma ação pastoral sólida exige uma consolidada e transparente gestão de recursos e de pessoas. O zelo pela casa de Deus não é verdadeiro se não chega em todas as instâncias, pastorais e administrativas.
A alegria do Evangelho é ao mesmo tempo graça e tarefa, “o dever que incumbe a nós em toda e qualquer época e lugar, porque não pode haver verdadeira evangelização sem anúncio explícito de Jesus como Senhor e sem existir uma primazia do anúncio de Jesus Cristo em qualquer trabalho de evangelização”. Assim, seja na ação pastoral da caridade e do anúncio ou na ação de governar e administrar tudo deve explicitar a obra de Cristo. Mãe e mestra na fé, a Igreja está inserida na realidade do mundo e, agindo por ordem de Cristo e pela força do Espírito, ela deve viver aquilo que ensina.
Dom Devair Araújo da Fonseca
Bispo de Piracicaba
1 Lumen Gentium, 2.
2 Evangelii Gaudium, 110.