O Papa Francisco, na sua encíclica Fratelli Tutti de 2020, afirma que ser “verdadeiramente popular – porque promove o bem do povo – é garantir a todos a possibilidade de fazer germinar as sementes que Deus colocou em cada um, suas capacidades, sua iniciativa, suas forças. Essa é a melhor ajuda para um pobre, o melhor caminho para uma existência digna. Por isso, citando sua encíclica Laudato Si’, número 128, ele insiste: ‘ajudar os pobres com o dinheiro deve ser sempre um remédio provisório para enfrentar emergências. O verdadeiro objetivo deveria ser sempre consentir-lhes uma vida digna através do trabalho’" (nº 162).
A encíclica diz que em “uma sociedade realmente desenvolvida, o trabalho é uma dimensão essencial da vida social, porque não é só um modo de ganhar o pão, mas também um meio para o crescimento pessoal, para estabelecer relações sadias, expressar a si mesmo, partilhar dons, sentir-se corresponsável no desenvolvimento do mundo e, finalmente, viver como povo” (nº 162). Continua ainda “é necessário fazer crescer não só uma espiritualidade da fraternidade, mas também, e ao mesmo tempo, uma organização mundial mais eficiente para ajudar a resolver os problemas prementes dos abandonados que sofrem e morrem nos países pobres” (nº 165).
O Papa admoesta: “A tarefa educativa, o desenvolvimento de hábitos solidários, a capacidade de pensar a vida humana de forma mais integral, a profundidade espiritual são realidades necessárias para dar qualidade às relações humanas, de tal modo que seja a própria sociedade a reagir diante das próprias injustiças, das aberrações, dos abusos dos poderes econômicos, tecnológicos, políticos e midiáticos. Há visões liberais que ignoram esse fator da fragilidade humana e imaginam um mundo que corresponda a determinada ordem que poderia, por si só, assegurar o futuro e a solução de todos os problemas” (nº 167).
Fratelli Tutti ensina que a “efetiva distribuição do poder, sobretudo político, econômico, militar e tecnológico, entre uma pluralidade de sujeitos e a criação de um sistema jurídico de regulação das reinvindicações e dos interesses realiza a limitação do poder. Mas, hoje, o panorama mundial apresenta-nos muitos direitos falsos e, ao mesmo tempo, amplos setores sem proteção, vítimas inclusive de um mau exercício do poder’” (nº 171). “Atualmente muitos possuem uma noção ruim da política, e não se pode ignorar que frequentemente, por detrás desse fato, estão os erros, a corrupção e a ineficiência de alguns políticos” (nº 176).
O Papa Francisco, citando Laudato Si’ (nº 197) afirma que precisa “de uma política que pense com visão ampla e leve por diante uma reformulação integral, abrangendo em um diálogo interdisciplinar os vários aspectos da crise” e depois, continua o Papa “ penso em uma política salutar, capaz de reformar as instituições, coordená-las e dotá-las de bons procedimentos, que permitam superar pressões e inércias viciosas” (Laudato Si’, nº 181). Não se pode pedir isso à economia, nem aceitar que ela assuma o poder real do Estado” (nº 177). Para o Papa a política não deve submeter-se à economia.
Este documento papal, citando a Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (nº 205), declara reconhecer “todo ser humano como um irmão ou uma irmã e procurar uma amizade social que integre a todos não são meras utopias. Exigem a decisão e a capacidade de encontrar os percursos eficazes que assegurem sua real possibilidade. Todo e qualquer esforço nessa linha torna-se um nobre exercício da caridade. Com efeito, um indivíduo pode ajudar uma pessoa necessitada, mas, quando se une a outros para gerar processos sociais de fraternidade e justiça para todos, entra no ‘campo da caridade mais ampla, a caridade política’” (nº 180).
Pe. Antônio Carlos D´Elboux – acdelboux@uol.com.br
Pároco da Paróquia Imaculado Coração de Maria
Rio Claro
REFERÊNCIA
FRANCISCO, Papa. Fratelli Tutti. Carta encíclica sobre a fraternidade e a amizade social. São Paulo: Paulus, 2020.